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7 de maio de 2009

É frágil, não toque!

Acho que todos passamos por algum momento na infância, ou mesmo em tempos mais recentes a depender do preciosismo de certas pessoas, onde somos policiados para que não quebremos algo frágil. Emburrados diante da repressão, só nos resta olhar de longe.

Pois é, nem a proximidade nos é permitido, como se olhar pudesse quebrar, como se a tentação faz necessária a distância. Acho que concordo com a última, talvez nem tivesse a intenção de acessar o bem frágil, mas a proibição deixa tudo mais desejável.

A situação em que me encontro agora estabelece alguma relação com esse fato. Tendo falado de tantas maneiras sobre a mesma coisa arrumo mais essa metáfora, lá vou eu. O amor platônico, o estar apaixonado, vira um caminhar na loja de cristais.

A visão enche os olhos, de todos os tamanhos e formas reluzem as cores de uma forma toda especial. São as mesmas cores de antes, mas vistas de um jeito diferente. A existência ganhar um ar contemplativo e a vontade de ser se resume ao quanto de beleza meus olhos podem captar.

Deslizando meus olhos pelas prateleiras avisto uma advertência:

"Evite acidentes, mantenha distância, produtos frágeis"

Até então nem me ocorrera me aproximar de tais belezas, já me saciava o olhar, mas a proibição me faz pensar. "Entrei aqui somente para olhar?" Depois disso são poucos instantes até que o olhar já não me baste, é hora de agir!

Antes de mais nada importante lembrar que é uma loja de cristais, o ambiente clama por cautela, então nada melhor que traçar um plano. Primeiro há que se firmar um alvo, recuperado da cegueira inicial pelos múltiplos brilhos posso estabelecer qual aquele que merece o risco.

Não é difícil perceber, foi aquele que me trouxe a essa situação complicado, aquele que me chamou da vitrine e me convidou a entrar na loja. A beleza que transcende o próprio meio, que invade minha realidade e me trás ao caos: a beleza fatal do primeiro cristal.

É ele mesmo, mas e agora? Sei que se eu estender o braço para alcança-lo atrairei a atenção do dono da loja, mas será que posso comprar? Será que quero? Seja como for, é um instante único, com o cristal nas mãos ou o compro ou nunca mais terei a oportunidade de segura-lo.

Não dá para experimentar, não dá para segurar e depois decidir, pega-lo já constitui escolha. Indagações a parte a racionalidade cede ao impulso: já me encontro com o frágil objeto nas mãos. Tenho um segundo de satisfação plena, até que percebo o dono da loja me encarando.

Como que no susto acabo devolvendo o objeto às pressas para seu lugar, sem deixar de esbarrar em tantos outros desarrumando as linhas em que estavam postas as mercadorias. "Ao menos não quebrei nada" pensamento que é claro não compartilhei com o lojista que, longe de achar uma grande façanha e me parabenizar, já me expulsa do lugar.

Resmungo palavrões agora, estou de volta a rua suja em que andava a esmo. O pouco tempo que fiquei serviu para esquecer de toda a vida antes de entrar por aquela porta, antes de avistar o cristal. Um esquecimento seletivo, nada mais era digno de ser lembrado.

A minha vida consistia naquela burrada na loja de cristais, longe de lembrar os primeiros momentos e sentimentos só lembrava de que me foram tirados. Sinto falta, mas não sei do que. Sinto falta de saber do que sentir falta, quero voltar para lá!

Nessa grande confusão só duas certezas, duas raivas. A primeira direcionada à minha incompetência e a segunda à falta de sensibilidade do lojista. Vou remoendo tudo aquilo sem pensar na simplicidade que é abrir a porta e pedir desculpas.

"Que se dane" é isso, sigo vagando na rua sem propósito me distanciando da bendita loja de cristais. Não tenho certeza do que abandonei e muito menos do que procurar. A única certeza, e ainda assim frágil, é a da fuga. O movimento desanuvia as ideias.

Vou fugindo com alguma esperança de saber do que me arrepender e talvez voltar, vou fugindo com a certeza de que vou sofrer, talvez menos que se eu ficasse, talvez.

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