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28 de maio de 2010

Artistas de Rua

Nos dias em que estou de bom humor, olho o mundo de forma diferente. Aliás, melhor dizer que o olho verdadeiramente, com os dois olhos bem abertos. O pessimismo e o mal humor muitas vezes cegam mais que o otimismo... que mais idiotiza do que cega, bem verdade (não ia trair a minha personalidade, não se preocupem).

E, nessas de me aperceber do que me cerca, olhei para dois desses pedintes mais ajeitados do trânsito. Via-se pelos seus trajes que, apesar da simplicidade, estavam longe de ser moradores de rua. Dava para chamá-los de "artistas de rua".

Seus números eram tão pouco originais quanto o dos pobres maltrapilhos que nos arrancam tostões mais pela comoção do que pelo entretenimento, mas existia um refinamento. Só o fato de não nos distrair a condição deplorável do artista, de vizualizá-lo penando por um pedaço de pão, sem garantia de abrigo de sol e chuva, já ajuda.

É até possível falar destes artistas com uma maior leveza e tiração de onda do que dos miseráveis que vivem disso, principalmente as crianças. Seria sadismo fazer exercício intelectual com problemas sociais sérios, até eu, que sou meio avoado, reconheço isso.

Voltando ao tópico: esses artistas de rua...

Vi dois sujeitos da minha idade com roupas antigas e coloridas, de brechó mesmo, ao estilo saltimbanco. Era um cara e uma garota... e posso acrescentar sem grandes receios que a garota era atraente. Talvez o cara até pudesse ser considerado atraente também, ainda mais em minha faculdade onde esses tipos mais desencanados vagueiam.

O cara treinava um número com uma esfera transparente em que, se utilizando da destreza, fazia com esta permanecesse imóvel enquanto seu corpo se movia ao redor dela. A garota tirava folhas do gramado onde estavam sentados, à beira do cruzamento, e as picotava enquanto conversava com o colega de ofício.

Da janela do ônibus, os fitava e pensava sobre seus rendimentos, se bastariam ou mesmo que finalidade possuiriam: sustento integral ou mero ganho extra para a vadiagem? Faço esse exercício com qualquer "profissional liberal", a segurança profissional é algo que me causa aflição, ao pensar que alguém não à tenha.

Só que dessa vez fui além. Tentei ver se eles mereceriam o que ganhavam, já partindo do pressuposto que ganhavam uma quantia razoável para sujeitar jovens bem cuidados e instruídos (santo preconceito!) à estar alí. Vamos lá, se eu dou uns dois reais...

Uma entrada de circo deve ser o que? Uns dez, quinze reais? E deve durar quanto? Pelo menos meia-hora, não é? São vários números, ambientação e tempo razoável de duração. Nada disso nos caros amigos artistas de rua. Deveriam ganhar muito menos, ao não ser que se pensasse em uma praticidade por trazer a arte até nós...

Mas ninguém pediu! Quer dizer, pelo menos eu acho. Esse tipo de intervenção não causa nenhum relaxamento e não é cômodo, ainda mais quando o sujeito se demora com o sinal já aberto, à recolher as contribuíções. Então, o que seriam esses dois reais?

Caridade, pura caridade! Você vai lá e doa, se dispõe a dar um preço considerável por um número interessante, mas que vale muito menos. O faz por constrangimento, coerção ou até por alimentar o ego ao estar de patrão, uma vez no dia.

Nenhum serviço foi realmente produzido, era só um jeito mais sofisticado de esmolar. Claro que, em um momento eu teria de queimar a língua. Foi quando me peguei ainda olhando para a garota que sorria e picotava a grama naquela alegria estranha à mim. Era uma imagem bonita, o truque do rapaz até ficava mais interessante.

A verdadeira arte daquela dupla talvez fosse simplesmente ser artista. Eu, nos meus pensamentos economicistas, quase me perdi desse caractér artístico que também me é comum. Mas, ao contrário deles, não teria a bravura de viver isso.

Que trabalhador da cidade grande pode dizer que, em seus intervalos, senta na relva e picota a grama em uma acalorada conversa com um amigo? Quem é que pode dizer que ainda ri como uma criança das banalidades do dia-à-dia?

Talvez fosse justo que recebessem para mostrar o que é possível: que mesmo o bucolismo escapa pelas brechas do concreto, que nenhuma arte é ultrapassada, se esgueira ascendendo pelas cascatas de areia do tempo se a intenção for sincera: a intenção de Ser ou, ainda mais, a inteção de transformar e de se conectar e...

Chega! Nunca sei aonde vai terminar um pensamento. Depois de cruzar ideias de antes e de depois daquela parada de alguns segundos no cruzamento dos artistas de rua, resta dizer que não tenho conclusões, apenas essas ideias soltas.

Que seja... que eu seja! Que eu mostre, me expresse pela minha arte! Que o mundo saiba... (ah não! a ideia pegou)

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