Começo com um pedido de desculpas. Tanto escrevo que esqueço que não possuo a palavra ou até, se a possuo, a destituo de todo o seu poder. Como dizer adeus se desconheço o compromisso com o final? Minha alma inscreveu a si e seus sentimentos limítrofes na continuidade de processos sagrados como eternos.
Conhece a rotina, conhece meus ritmos e conhecerá o ser que me habita. Sou capaz de surpresas mas mesmo a surpresa é esperada, preenche um vazio já existente. Conhece meus vazios, conhece meu movimento pela relação que tenho com o espaço!
Nem por isso deixo de ser sincero. Escrevo cada texto como se fosse o último, não na tragédia de quem vê a imediação de um final abrupto, mas pela completude de cada reflexão que tem seu início e final nela mesma.Trago sentimentos como cigarros, inalo tóxinas de indagações pífias sobre a vida e arremeço ideias usadas no meio-fio.
Por que tanto recomeça o mal hábito o fumante de tantos últimos cigarros? Existe sim o vício, mas também justo por esse elemento das ideias descartáveis, cada bastonete é um ato único, você começa e para de fumar a cada cigarro. Quando o joga fora, se sente livre, não imagina o próximo (ainda mais quando, como eu, não compra o maço).
Cada texto carece de um significado mais amplo, sou a própria névoa; cada ideia carrega suas tóxinas, viciei em mim mesmo! Um adeus que acaba em si não é adeus, ou até é, mas por aqui ele ganha outro significado. As palavras e sentimentos tem muita mobilidade na minha existência de névoa que paira no ar sem formato e se dissolve ao menor sopro.
Pensei no que diria quando vencesse na vida, que palavras usar para descrever o êxito. A excêntricidade do ser escritor tomou posse, lá estava eu criando a expressão para um sentimento que mal se apresentara. Meu retorno às palavras teria de vir acompanhado do júbilo, calculei o momento em mim que me traria de volta, achei que isso bastava.
... e estava certo. Já adentrei cada abismo de minha alma no regime de introspecção dos últimos anos, me conheço. Posso desconhecer as situações de que pode prover o mundo exterior, mas dominei de tal forma o reino interno que sei quais contingentes emocionais serão mobilizados para cada incursão de prazeres e dores.
Era fácil definir a felicidade, a vitória e tudo o que viria pela conquista do mundo lá fora. Foi assim, na inocência de um exercício intelectual qualquer, que descobri a razão do tédio. Achar que nada surpreende é obviamente um exagero, mas parecia convencer, vi então porque: conheço a surpresa; desconheço a vida, mas conheço o viver.
Ainda é exagero se entediar com a felicidade, uma felicidade que mal veio, bem verdade, mas o entendimento racional torna a perspectiva aceitável... aceitável? É, existe uma paz apesar de tudo. Decidi apelar para a normalidade, restringir o meu ser para que sobre espaço, me esquecer do que aprendi e recriar o mistério.
Passou-se uma semana na construção desse admirável novo mundo interno, cinco dias na filtração da angústia, um na apresentação do herdeiro do novo reino e o último no descanso e contemplação da obra. Fiz-me Deus, fiz-me...
Algo? - venho a mim a maior das criações: a ignorância.
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