Você já escreveu pelo simples prazer de ver as palavras se formando no papel? Dá uma calma... por um minuto sou tomado pela ilusão de que o vazio da vida pode ser preenchido como uma folha em branco. No início é assustador, o pesadelo de muitos escritores é o bloqueio, como se a escrita só valesse nos adornos de um bom começo
Mas, passada essa angústia no auxílio de uma musa inspiradora qualquer, o traçado do mundo e seus mistérios, antes oculto em nossos enganos, fica visível à caneta ou lápis nas letras e borrões vertidos que outrora pulsavam sentimentos em um coração sincero.
É fácil, portanto, se perder, desejar viver a vida toda em letra cursiva, achar que é fácil a disciplina do escritor como quem precisa apenas seguir a mesma estrada, esquecer que descrever não é escrever e que o silêncio muitas vezes diz muito... e que mesmo se não dissesse nada, há momentos em que não é preciso traçar palavras.
Difícil é largar a caneta, fechar o peito e abrir os olhos: viver! - se preservar. O mundo sensível está aí para ser aproveitado, nos poupar da intuição deste vasto reino interno e de nós mesmos quando não fazemos sentido, nos integrar ao outro pelo toque, pelo beijo.. e até pela palavra (em nenhum momento ambicionei abdicar dela por completo).
Ser mais do que estar; sentir mais do que formular. O não-escrever é importante para o escritor, só assim para recuperar o valor de palavras muitas vezes perdidas no idealismo - é preciso vivenciar antes do registro, saber do que se fala. E o que dizer agora que recupero a minha voz? Pensando nessa pergunta me vem um dizer da língua inglesa:
"Say what you mean and mean what you say" - algo como, diga o que você quer e queira o que você diz (em uma tradução livre). E o que quero, afinal?
Quero coisas tão bobas... outro dia mesmo fui tomado por um desejo intenso de dançar com a minha namorada. Dançar mesmo sem saber os passos, sem constrangimento, e sorririamos tanto... não pelo ridículo de meu gingado extravagante (ok, talvez um pouco por isso), mas mais pelo simples prazer de estar um com o outro.
E, quando o desejo se traduz em movimento, o peito é partido em dois por um sopro de melancolia que fustiga o coração - a garganta seca ao perceber que meus braços pairariam no ar por dias e até semanas na espera de minha parceira de dança.
Faz falta, dói demais!
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