O dia começou amargo. Não o amargo bom do café ou do chocolate sofisticado, mas o amargo que vem em má hora: o amargo na sobremesa, a tristeza na hora da festa. Há tempos realizo o penoso esforço de receber o dia de peito aberto e respeitar os desafios com disciplina, são muitos dias de preparo... para me deparar com o cortinado celeste.
O tempo está fechado - o coração murcha e o rubor da paixão se desfaz dando lugar a um rosto pálido. De nada valeu o ânimo se nesse friozinho agudo de vento gelado e chuva rala, o fundamental é manter as energias. A exaltação frustra em um tempo desses.
Cabe medir bem a situação, desarregaçar as mangas e voltar para a posição mais cômoda: a depressão. Deprimir-me por livre e expontânea vontade, depressão voluntária, hibernação sentimental, quanto menos sentir e me desgastar, melhor. Questão de vida ou morte.
Demanda um esforço não morrer, não sentir a morte, o lúgubre e o sinistro, o medo de tudo... e do nada. Evitar padecer de certos males pode ajudar, principalmente aqueles que atingem o coração, a primeira parte que apodrece, pois que a desilusão definitiva, a de soltar-se da vida nos últimos momentos, será tão grande que nos levará um pouco antes.
Mata-me justamente esse desapêgo.. e o ensaiamos a vida toda. Quando a felicidade me pega de jeito, logo percebo que deixei algo precioso para trás. Perdi para ganhar muitas vezes o tesouro de uma vida pela jóia do momento. É como se cada êxito escondesse por traz de si um fracasso: o de não ter me mantido íntegro. Rasguei meu código de conduta.
O dia cinzento deixou meu mundo em branco e preto, ceguei-me às cores para não perceber que o sol ainda não saiu. Quero uma vida mais simples, de linhas mais curtas, sentenças generalizantes e muita margem para interpretação (sonhar, quem sabe)!
Só por hoje.
1 comentários:
felicidade é só questão de ser... dizem
pois é... dizem
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