Quando foi que o frio se tornou polar? Besteira! Falando assim parece que vivi a vida inteira no calor dos sertões.. quem sou eu no meio desses exageros todos? Uma ideia tola? Uma resposta errada? Um tiro às cegas? De todas as formas, sou dúvida e nem me acalma o ego o paradoxo da certeza no erro ou sacio o narcisismo pela beleza de meus enganos. Não há consolo, talvez disso eu tenha alguma certeza, parece que já tentei de tudo!
O mais engraçado é que mesmo na posição de exímio conhecedor do mundo (ou do mundano), aqui da torre do Tédio, ainda me surpreende esse frio. É fácil cair no engano de culpar um suposto colapso climático, mas, em termos geofísicos, é um desastre que se faz sentido (ao menos, por hora) nas sutilezas de uma planilha bradada por homens de jaleco com tom de autoridade. Está tudo em como se diz, está tudo no que escolhemos acreditar.. e hoje opto por escapar deste lugar comum.
Pergunto-me então sobre quando me tornei tão sensível e vejo que não tenho resposta. Parece-me às vezes que em algum momento me machuquei e esqueci de me tratar, pois algo me dói, me pede para descansar, e não é de hoje. Artimanha do Tédio que grita, clama, sobre os supostos riscos de minha nova postura empreendedora que, mesmo pífia e nula, já representa ruptura nesta alma velha e viciada que vos escreve.
Sábio o Tédio, me compra pelas extravagâncias e exageros, sabe que darei ouvidos a queixas sobre o que não posso controlar. Dou contornos e adornos de tragédia a chuva fina e o vento gelado - tempo injusto que conspira contra a melhora do meu estado melancólico. Sou filho bastardo de um mundo que me pariu a contra-gosto e que deflagra seu desafeto nas intempéries que me flagelam e me condenam a um estado doentio... quanto drama!
Às vezes, é preciso escrever para perceber o quanto somos ridículos, ou assim supor. Uma ideia enjaulada em um conceito explícito parece dócil. Meu texto tem de suas falhas, mas é certeiro na teimosia de uma conclusão que cedo ou tarde se apresenta - "então, é isso?" - geralmente fica esse pensamento após a primeira revisão. É nessa hora que a angústia subitamente se dissipa... isso até que a ideia novamente me escape da compreensão e tome outra forma. Algo como um saber prático com ares de encantamento sobre demônios que capturo ao saber pronunciar seus nomes na violência dominadora da palavra.
Claro que, se por um lado o domínio dessa arte me fortalece, por outro me aprisiona. Sou refém da palavra na ambição de domesticar o mundo, torná-lo palpável, simplificado, na confusão de um espírito apaixonado. É um impulso que consome, empresa de uma vida! Chamado que atenderei ainda por muito tempo. Agora está claro: à despeito do bloqueio, sou escritor, mesmo no silêncio nunca deixei de sê-lo; à despeito de mim mesmo, sou o que sou e em um mundo onde todos se preocupam em ser alguém, ser o que se é não é pouca coisa.
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