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12 de setembro de 2011

11 de Setembro


Querem nos enganar. Eu poderia ser mais brando, caminhar suavemente pelo tema e só então arrebatar, mas não seria preciso. A questão é aguda o suficiente para que eu vá direto ao ponto e faça o alerta, é muito importante que se preste atenção no que se ouve e se vê nesses dias... sempre é, mas nas datas marcadas o esforço deve ser redobrado.

Sou historiador, futuro historiador, portanto sensível a construção da memória coletiva, aliás, mais do que isso, me sensibilizo e sou munido do conhecimento para transformar tais estímulos em reflexão. Todos temos esse potencial dentro de nós, em maior ou menor grau. Afinal, a percepção histórica, na falta de termo melhor, é um dos elementos que integram o tal do cidadão crítico que a escola deveria se preocupar em formar.

É hora de por a nossa edução a prova: "Onde você estava há dez anos atrás?"

Circula no meio jornalístico a máxima de que nos lembramos exatamente do que fazíamos no fatídico dia. E, estimulados pelo furor dos especiais de televisão (o que ficou pelo menos dez vezes pior por ter caído justamente no domingo, dia onde reina o sensacionalismo na programação) ou talvez pela estupidez latente de alguns que explode em momentos estratégicos, as pessoas se forçam a lembrar... e lembram. Só que se lembram da forma como lembrariam de qualquer outra coisa que aconteceu há dez anos atrás: vagamente.

Peço que não se choquem com o que eu vou dizer, mas, sim, é uma lembrança comum - não foi traumático (para a maioria de nós). É compreensível que nos sensibilize pelo lado humano, mas pessoas morrem todos os dias de formas igualmente violentas e arbitrárias; é compreensível que nos sensibilize pelo patriotismo, pelo terror social, mas não somos estadunidenses. Como apêndice do mundo ocidental, o que se pretende é que cultuemos mais alguns santos estrangeiros, mártires de causas estranhas que se tornam nossas sem motivo...

A tragédia em si nos é estranha, o que tivemos acesso foi ao terror midiático, a descoberta da tragédia como produto e a institucionalização da paranoia coletiva - loucos são os que não se preocupam. E seguem as lembranças, depoimentos colhidos para contar uma história, ou melhor, para corroborar uma história. O discurso já está posto, após dez anos é possível ver a forma que vai tomando, um fato histórico em sua gênese - fascinante! E igualmente terrível, digno de um medo maior do que o que tentam nos provocar...

O que será feito disso?

Aí depende, vai de acordo com a medida de nossa ilusão. O episódio tem um alto poder de catarse coletiva e se deixarmos que ditem as regras de nossas lembranças, não vai demorar até que governem nossos sentimentos e vontades. Muita coisa pode ser feita, essa seria a minha resposta, coisa demais para pensarmos em apenas um dia por ano - quando nos permitem pensar - no assunto.

Só de comentar a questão na madrugada, oficialmente dia doze, já sou transgressor. E mesmo eu, ainda que encarnando o papel da razão, não posso ditar a nitidez com que se apresentam suas memórias, caros leitores. Cada qual lembra a sua maneira, ainda assim devo lembra-los de que a memória se transforma com o tempo. Mudam-se as cores: certos detalhes se firmam, outros se perdem, e (aqui nos interessa mais!) se determina um conteúdo emocional.

Lembro-me mais ou menos de onde me encontrava, acho que voltava para casa na perua escolar e poderia jurar que cheguei a tempo de ver ao vivo na televisão quando o segundo avião se chocou, mas os horários não batem... talvez seja a ânsia de ser testemunha. Mais complicado ainda de perceber o que acontecia (se afinal eu cheguei a tempo, se as aulas foram canceladas etc.) é precisar o que senti naquele momento há (não) exatos dez anos. Foi medo? Foi terror? Foi... incompreensão? Ou foi uma profunda indiferença? Dá para ir além e perguntar também: O que eu quero ter sentido? O que querem que eu tenha sentido?

Isso é lucidez.

Existe um preço para a lembrança programada no calendário. Dá a impressão que lembramos todos juntos e a colcha de retalhos de nossas memórias ganha a forma de um discurso detalhado. Viramos profetas, dizemos que sabíamos que tudo seria diferente a partir dali; viramos humanistas e descrevemos um terror profundo pela perda dos familiares daqueles homens inocentes; viramos civistas e honramos a bravura dos bombeiros e policiais...

Incertezas viram Verdades.

Nesse ponto, eu espero que não precise ressalvar que não possuo um coração de pedra ou total falta de tato - sei muito bem que a perda de qualquer vida humana é uma tragédia e que as mais de três mil vidas não tem como serem pesadas em uma balança dando-me palavras que as valham. O esforço aqui é só para instigar a reflexão de onde termina a memória individual e começa a coletiva e de como, por quem e porquê ela se constrói.

Não darei tais respostas, por não querer impor nada... e por não saber ao certo.

Termino com um pouco de mitologia. Os gregos, embora pareçam não ter se entrosado com o admirável mundo novo, já foram muito sábios. Dizia-se que quando a terrível criatura Medusa fora decapitada pelo valente Perseu, de seu sangue nasceu o cavalo alado Pégasu. E embora muitos só conheçam a Medusa por aquele filme mequetrefe e lembrem do Pégasu pelos cavaleiros do zodíaco, a metáfora é sobre como uma coisa ruim pode gerar uma boa.

Infelizmente, a modernidade parece funcionar as avessas (não a toa a Grécia esteja passando por maus bocados) e de uma coisa ruim só surjam coisas ainda piores - o maior exemplo talvez seja o Holocausto e a instauração da guerra perpétua no Oriente Médio com a criação do Estado de Israel. Mas sejamos otimistas, talvez a chave de tudo esteja pura e simplesmente em como lidamos com nossas memórias - um dos segredos do aprendizado.

Só assim os homens reaprenderão a aprender.

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