Dentro da igreja Célio, ainda absimado com a magnificência do que via, procura um lugar vago em meio a multidão. Sua intensão era passar desapercebido. Sim, era quase certeza de que iria em qualquer lugar que sentasse, a igreja era enorme! Mas a timidez não é muito racional.
Sentado na décima fileira da coluna da esquerda ele podia ter uma visão razoável do pulpito e manter uma distância que ele considerava segura para suas inseguranças. Era estranho como aquele lugar o fazia se sentir. Os aromas, os sons, as imagens, era tudo muito familiar e o deixava estremamente confortável.
Inebriado por aquilo que, por ironia talvez, denominou em sua cabeça de "paz de espírito", Célio começa a conversar com uma simpática velhinha que estava a seu lado. Perguntas simples como "como vai você?" e outras trivialidades. Novamente a familiaridade apareceu, ele sentiu-se ligado aquela senhora instantaneamente.
O zumbidos e risos param de ecoar na fortaleza de mármore assim que sobe ao púlpito a estrela o espetáculo. Olhando fixamente para o padre durante o sermão, o curisos rapaz sente extrema receptividade pelas idéias lançadas de caridade nesse mundo egoísta onde prevalece o dinheiro.
O que mais chamou a sua atenção no entando foi o sentido das palavras e ausência do triste fim que impunha em seus pensamentos como solução para as desgraças. Tudo pertencia a um ciclo maior onde aos justos estaria reservado a recompensa, e aos injustos a punição.
O culto acabou e um confuso Célio levanta e perdido em pensamentos sai da igreja. Olhando para o horizonte ele pesa seus pensamentos com o intuito de chegar a uma solução para seu impasse. A lógica o tornava cético, a fé um crédulo. Não importava a linha argumentativa, sempre se chegava em 50% de chances para cada lado.
Foi então que deixando de mirar os céus, em razão do brilhante sol que o cegava, Célio avista uma moeda no chão. Lembrando de seus conceitos de probabilidade básicos decide então jogar a moeda simbolizando o seu impasse: 50% de chances para a fé, 50% para o lógica.
O lado esculpido com a face humana simbolizaria a maior criação de Deus, e o com número a lógica imbátivel da ciência. Feitas as apostas ele lança à sorte sua maior escolha. Em uma subida lenta a moeda acompanha com um giro completo cada batida de coração do apostador.
Um grande constraste com a descida rápida e brutal, que o fez, por reflexo, pegar a moeda no ar e fechar a mão direita rapidamente. Era agora, colocaria a moeda sobre o punho esquerdo para checar o resultado. O faria se não fosse a inevitável reflexão que zumbia em sua cabeça: quais os resultados da aposta?
Se decidisse apostar na lógica e ganhasse, só lhe rendaria talvez o tempo que não iria gastar com a espiritualidade. Nem o gosto de estar certo sentiria pois, não haveria vida após a morte. Se perdesse teria de acertar contas com o Todo poderoso.
Se decidisse apostar na fé e ganhasse, lhe renderia uma pós-vida eterna repleta de regalias recompensando sua devoção e vida regrada em prol do próximo. Se perdesse, sim, "perderia" tempo, mas um tempo em que seria plenamente feliz.
Manipulação do desejo de sentido e transcendência dos humanos ou não, a religião lhe trazia paz, por que negar algo tão bonito? Decide então guardar a moeda no bolso e viver sua crença, voltaria lá nas semanas subseqüentes. Afinal, ainda que na pior das hipóteses, acreditar é uma aposta segura.
1 comentários:
''Acreditar é uma aposta segura.''
Apezar de no fundo, não acreditar, eu adoro a maneira como voce se refere a religião.
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