Preguiça

Não consigo me mover, a inércia é muito forte e contem cada espasmo que me levaria a liberdade. Esta prisão é eficiente e intransponível. Bem construída pelo próprio prisoneiro ela seduz ao confinamento com a simples oferta de que lá dentro nada precisa ser feito.

Já dentro deste cárcere percebo a ausência de qualquer muro ou barreira. Consiste em apenas uma cama, nem tão confortável, mas que permite parar o tempo. Quanto mais fico deitado vou perdendo o ritmo e esquecendo que o tempo la fora continua transcorrendo normalmente.

Criei meu próprio fuso-horário em minha terra imaginária, uma própria agenda que esta sempre vazia e uma lixeira onde jogo fora meus compromissos. Estaria tudo certo se a ausência de barreiras não implicasse em algo grave: posso ver o que acontece lá fora.

Vejo muito mais cores do que aqui dentro, mais pessoas, mais energia. Visão que me daria forças suficientes para sair se não fosse o terrível diagnóstico de meu confinamento: muito tempo foi perdido e jamais será recuperado.

Se antes a prisão era o isolamento das frustrações do mundo externo agora se torna uma curel tortura. Acordo todos os dias visualizando um mundo de cores e percebendo tudo o que perdi, volto a dormir então em desespero. Resta-me apenas contar com meus sonhos, onde estou do lado de fora.