Dia Infernal - memória corroída

Demorei um pouco a tornar a falar do assunto e bem possivelmente esqueci detalhes cruciais, tentarei passar o essencial da experiência, uma coisa não tão factual quanto eu gostaria. Que seja, terminemos esse assunto pendente..

O último dia acabou sendo em uma terça-feira, dia no qual dois animes legais passam na tv. Parece besteira, mas em matéria de acompanhar séries e animes eu costuma ser bastante religioso (vide dia anterior em que fiz questão de assistir Grey's Anatomy).

Coloquei-me a trabalhar já pensando nas pausas (almoço, janta e tv), isso não ia prestar. Sem dúvida estava empenhado, mas a postura ainda não estava muito correta. As horas correram, páginas e páginas e até um intervalo de almoço depois resolvo fazer uma média de páginas/hora na cabeça.

O trabalho consistia em um fichamento do livro, o estava fazendo capítulo a capítulo então a leitura do livro era quase paralela a concretização da tarefa (com um pequeno delay pra colocar as idéias no papel). E lá fui eu me perder em números..

A média normal de páginas que leio, sendo generalizante porque o tamanha da fonte pode modificar, é de 15p/1h. Eu estava um pouco mais rápido que isso, talvez 20p/1h, então eu assumi que esse tempo a mais servisse talvez pra passar as idéias no papel.

O ritmo de páginas lidas é convenientemente transformado em ritmo de páginas fichadas para que eu tivesse um controle. Vejo então que, talvez pelo intervalo do almoço, eu não atingi o número de páginas que deveria.

Projetei as 6h passadas para uma meta no dia seguinte, debitando a pausa da janta e da tv, e vi que meu máximo seria então chegar na página 300 (sendo que o livro possuia 380). Importante que fazia esses cálculos enquanto lia.

Distraído pelas projeções eu voltava o parágrafo que parecia impossível entender várias vezes. "To fodido... to fodido.. to fodido!" Ótimo, agora mais esse pensamento agradável. Era hora de levar a sério, mas antes uma saída do quarto, a pressão estava me sufocando!

Matei o tempo conversando com meu irmão, tomei banho e jantei. É, esse sou levando a sério, a corda no pescoço e eu brincando de yo-yo com o próprio corpo (sinto muito por não ter analogia melhor, preguiça de pensar). Concentrado então, eu volto para o quarto.

Duas decisões tomadas: pularei os dois animes e até mesmo meu sono. Com isso em mente e mais uma sensação falsa de vitória, adoro isso, me entrego 100% à tarefa (vai.. 99%, 1% eu reservo pras olhadinhas no relógio). Vou conseguir.. vou conseguir!

No meio da madrugada eu volto a calcular. Incrível! A média de páginas/hora tinha quase dobrado! Estava tudo certo e quando percebo já é manhã. Inseguro pelo sono apelo para o café, substância inofensiva que nos tira o sono sem qualquer efeito colateral.... not!

Eu sempre tomei uma pequena porção de café diluida no leite, não poderia ter grande diferença tomar uma caneca só com café, poderia? Com o espírito ousado eu preparo logo duas e faço mais uns cálculos: meio-dia eu termino essa porcaria.

Sabendo que me encontrava num ritmo alucinante sempre escedendo minhas metas eu relaxo diversas vezes. Paro para olhar meus cachorros, dar um gole na secunda caneca de café e devorar uma cestinha de pão-de-queijos.

Ás 9h por fim eu chego no último capítulo, o mais longo. O anterior havia sido também terrível, esse ia me arrancar o coro, quase desisti. Mas não dava, algo me empurrava para frente, quase como se eu estivesse dentro do livro e só sairia como esse último esforço.

Eu gostaria de dedicar um texto inteiro a esse último capítulo, mas foi muito traumático e não lembro muitos detalhes. Foi horrível, horrível, palavras não são suficientes para descrever o que era aquilo. "Faltam só 20 páginas.. peraí! Vinte páginas é página pra CARAL.."

Meio-dia eu terminei, ainda meio desacreditado do feito. Faço uma revisão está tudo certo, era só almoçar e levar na faculdade. Tecnicamente o dia infernal acabou, mas o pior ainda estava por vir..



[Continua...]