Hora de Fazer Barulho

Já me calei e escrevi por muito tempo. O silêncio somente cessado na incansável busca pela trilha sonora perfeita já toma conta mesmo ao som da música. Essa escuridão dos ouvidos, solidão eterna que me acompanha, já pouco tem a ver com manifestação sonora: é estado de espírito.

Guardo tudo o que coleto pelo caminho até ser insuportável passando então a despejar na sarjeta mais próxima. Meus confidentes que o digam, quanta baboseira já coloquei para fora nas horas mais importúnas. É claro, alguns vícios se manifestam.

Das porcarias que adoro coletar pelo caminho muitas vem da rua das desilusões, fragmentos de uma frustração superada guardados com muitíssimo esmero. Vou remomendo fato consumado até que seja desgastante demais carregar esse peso, derrubo tudo e recomeço o processo.

O próprio blog é manifestação disso, se alguém tiver a paciência de ler mais de uma postagem verá que é fundamentalmente o mesmo processo repetidas vezes (coleta.. explosão, coleta explosão..).

Naturalmente que uma vida dessas resulta na construção de um modelo de existência voltado para fora. Não quero guardar mais nada nessas costas machucadas que já carregaram tanto, toda experiência só tem sentido se possuir fim de exportação.

O show incrível, só se gravado e fotografado pros amigos; o filme interessante, só se sucitar discussão entre cinéfilos; o livro indispensável, só se me fizer parecer inteligente; a namorada, só se for necessário apresentar aos pais ou amenizar a imagem de fracassado.

Estou explodindo sem pavil nesse silêncio que insiste em tomar conta, a única solução é começar a fazer barulho. Mas por hora me seguro, afinal é madrugada de domingo para segunda e mamãe trabalha amanhã.