Lá Fora (aqui dentro)

Um olhar para dentro já cansa esse escritor que não cessa de cair em seus próprios abismos, já tanto me perdi em reflexões de perdição (e tanto me surpreendi por estar perdido apesar do rótulo já anunciar). O tempo gasto anúncia uma mudança de postura que teima em sair.

E quase me esqueço de como é lindo esse mundo, de como é bom estar sob o sol, de que... estou mentindo descaradamente! Quase me esqueço, apenas quase.

Estou de fato feliz, ou alegre, aéreo se preferir, mas por motivos muito meus. Em meio a cavernas, abismos e labirintos acabei achando um canto confortável, ou redescobrindo. Cautela, desse venono não mais beberei! A quem engano? Ninguém escolhe quando estará apaixonado.

Um pouco mais da amada em meu dia e já torno a uma proto-felicidade ridícula que me faz cambalear inebriado por promessas e projeções de que daqui para frente será diferente, de que o inferno mudou (ou que eu me mudei dele). Será que não percebo que foi justamente ela que trouxe até aqui?! E mais, no que me é útil destruir essa ilusão?

Talvez eu devesse me entregar, pular de cabeça nessa piscina que já sei estar vazia, alguém que supostamente está desesperado não devia barganhar. E lá vou eu, jogando como se tivesse algo a perder (ou mesmo a ganhar!). Sem saída.

Um amigo muito sábio, ainda que travando batalhas com uma filosofia oposta, me disse uma vez que tudo era questão de se fazer óbvio, não necessariamente o mais fácil, mas o óbvio. Fazer aquilo que esta à sua frente, ser esperto e agir antes que alguém o faça.

Já disse que abdiquei do extraordinário, fazer o óbvio acaba sendo o próximo passo. E o óbvio aqui dentro, ou lá fora, é muito óbvio: existe uma situação que me faz feliz e outra que não. Isso me restringindo a consequências imediatas, mas pensar o óbvio é justamente isso, não é?