Faço planos, teço metas, fumo cigarros, bebo meu café, descanso os olhos na tv. Escrevo textos, atualizo leituras, ouço minha música, expando meu horizonte. Por que então só enxergo você diante de mim? O que é esse pavor de perder um amor que nunca tive?
Nada desanuvia este céu tão carregado, o manto celeste de dúvidas e inseguranças sob o qual construo minha vida. O dilúvio vem para destruir toda a esperança pela oferta do recomeço, isso se eu tivesse a minha arca para salvar o escencial, meu disquete de boot.
Não tiro um grão sequer de experiência dessa tortura, cada dia é uma novidade velha, me surpreendo com o mesmo até não poder mais. O que é essa dor tão profunda?! Uma simples rejeição desencadeou um processo muito maior de reflexão pesarosa e inútil.
Esse onanismo intelectual restringe meu crescimento e capacidade de conexão com os demais pensamentos que não os de solidão e perda. Vontade de ficar à frente da tv o dia inteiro, um leve despertar, uma leve rebeldia de ver o dia lá fora, e meu corpo grita pela volta ao nada.
Ousei por um minuto e minha alma já se parte em dois, sinto o corte profundo da lâmina serrilhada de dentes, cada um carregando um temor, destrinchando meu interior a cada segundo. Não pensei que seria tão difícil abdicar da preguiça, que estaria abrindo mão de parte de mim (quanto mais que doeria tanto).
Gostaria de chorar, gritar, arranhar as paredes, cravar os dentes em minha própria carne, fazer uma sangria e expulsar esses demônios. Quem sabe ao menos ignorar a dor. Isso se já não o faço mentalmente nesse exercício simples de sair da cama todos os dias e depois ao tentar voltar.
Passo a vida no interlúdio desses dois momentos-chave: o despertar e a evanescência. Diversas vidas em sequência, um dia de cada vez, da criação do mundo ao dilúvio. Como trabalhar em um espaço tão curto? Como ter esperança? Como sair deste quarto?
Às vésperas da primavera cultuo meu anjo do outono, quando vou perceber que já é tarde? Não tão cedo, pelo menos não nessa madrugada, não nessa vida. Que o próximo despertar traga alguma clareza!
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