As férias são uma período de experiências. Normalmente, o que se espera é um sentido de experiência menos científico e mais vulgar de momento vivido, de memória criada, de vivência, melhor dizendo. Já eu me meto a experimentar no sentido de teste, romper limites, pôr hipóteses à prova. Legal... exceto pelo fato de que sou a própria cobaia.
Começou como uma extenção de minhas desordens do sono avançando madrugadas virando noites. Lembro-me da primeira até agora... uma maratona de uma série teen em uma canal de tv qualquer que muito me agradava. Cheguei até às 4h "e nem é reveillon!" -logo pensei. Fiquei maravilhado e mortificado pelo sono que não vinha.
Meu corpo aguentava o baque e se curvava à minha vontade, avançaria contra o sono se eu quisesse, mas tudo ao seu preço: a insônia. Como temi naquela madrugada, haveria a possibilidade do sono não vir mesmo quando eu decidisse que era melhor parar por ali. Criei um monstro que me acompanha até hoje. Devia ter o que... 11 anos?
Até os catorze era um monstro débil e o afugentava facilmente pela fadiga e cansaço e, quando não bastasse, pela rigidez de horários impostos. Na adolescência criei o tédio e tudo ganhou outra figura. Tristeza, depressão e um cansaço de viver mais do que daquilo que foi vivido criaram o cenário que agora reina.
Nas férias sem os horários e obrigações, o deixei solto com todas as suas armas novas e até brinquei com ele (as tais experiências). Vi até onde aguentava sem dormir e até onde isso era pertinente. Por vezes, iluminação e clareza nas ideias; por outras, uma nebulosidade e confusão que causava o mais profundo estresse.
Com a faculdade noturna, pude fazer a insônia, rotineira. Os horários e limites, longe de combaterem o mal, até o saudavam pela maior produtividade noturna. A experiência logo perdeu aquele ar de novidade e mistério.
A faculdade ainda foi central em outra experiência: a inanição. Se tornava a insônia praticável de modo até que saudável, descarrilhava todas as práticas verdadeiramente saudáveis. Mergulhei em um profundo sedentarismo e, naturalmente, tinha pouca fome. Por vezes me contentei com uma refeição diária e, mesmo quando não, tinha preguiça de repetir. Conformei-me.
O que a rotina dos tempos de aula que ainda governam este desempregado que vos escreve permitiam com algum grau de salubridade, as férias tratam de amplificar até o insuportável. Não sei se deu para pegar o raciocínio: crio monstros tratáveis na rotina e os solto nas férias. Quase como comprar pitbulls, treiná-los e prendê-los para soltá-los no período seguinte.
E quanto fui atacado nessa última aventura... pensei que ia enlouquecer. Era um mal-estar que não passava e não dava sinal de que passaria. O insustentável ficou verdadeiramente inustantável, senti a verdadeira angústia. Melhorei, felizmente.
Regulei as refeições (ainda que ao meu horário, sempre duas ou três refeições, mesmo que muitas delas se dêem entre 1h e 5h da manhã) e abracei minha insônia, algumas coisas nunca mudam. Voltei a velha angústia, o mínimo, sempre o mínimo.
A luta pela sanidade se revelou por si só outra angústia na seguinte pergunta: devo confiar, à esse determinismo biológico, meu bem-estar? Entristeci-me ao perceber que melhoraria só até certo ponto, ao velho ponto da infelicidade saudável. Lutei pelo corpo, ainda teria de lutar pela mente. Para que continuar então? Lutar pelo mínimo?
Sim.
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