Acordei com um mal estar absoluto. Por motivos estranhos, a minha prudência fica totalmente eclipsada por uma empolgação infantil ao jogar futebol. A falta de condicionamento também colaborou. Enfim, sempre me machuco quando jogo.
Soma-se às contusões (que incluem um nariz que, não duvido, esteja quebrado), uma gripe chata. O desconforto foi tamanho que eu, a coruja da casa, fui o primeiro a acordar nesse domingo. E dá-me remédio! Vem gargarejo e spray p/ dor de garganta, pastilha p/ gripe, lenço à rodo p/ o nariz escorrendo e sempre a dor ao assoar.
Ainda assim, a listagem de meus males não chega a ser objeto central desse texto. Gostaria de fazer um post totalmente escatológico minunciando cada lenço assoado, mas minhas habilidades descritivas deixam à desejar. Então, me contenho naquilo em que sou bom: o exagero de uma fato corriqueiro e seu desmembramento em reflexões fúteis.
Mando a Navalha de Occam às favas. Nunca me contentei com as explicações simples dos fenômenos. Em algum nível, acredito na influência de nosso pensamento na construção do mundo, a concepção altera o objeto. Simplificando, uma coisa só se faz simples porque nós à fazemos assim. É uma vulgarização do pensamento nietzschiano, confesso.
Mas, afinal, o que aconteceu de tão (extra)ordinário?! - você pode se perguntar. Eu responderia o seguinte...
Ontem, em uma parte do "rolê" com os amigos, já machucado, almoçado e entretido, me preparava para ir para casa. Era noite e jogávamos Wii na casa de um colega, um fim adequado de saída à quem não tinha ambições de ir à balada, mais tarde.
Nos aprontamos todos e fizemos os planos do que se sucederia. Um grupo regressaria ao lar, no qual eu me incluía, e o outro ainda iria comer sushi. Importante citar que o grupo unido era relativamente grande e já mal cabia no quarto do colega visitado. E, mesmo assim, nos metemos no elevador, sem receios de qualquer espécie.
Estávamos no segundo andar, seria um passeio rápido, mas, em algumas ocasiões, o elevador prefere aceitar a chamada de níveis superiores antes de descer os dois míseros andares. E fomos subindo e subindo e subindo... 3º...5º...8º...10º...13º...16º!
Mal acreditamos, o que de pior podia ter acontecido, aconteceu (dito que o edifício tinha dezesseis andares). Abriu-se a porta e um pessoal nos olhou com aquela cara de... cara de cú mesmo, vai! Fechou-se a porta, era a hora do longo caminho de volta...
Só que o elevador acabou desistindo de nos carregar. Informando ao porteiro pelo interfone, recebemos uma bela comida de rabo pelo nosso erro infeliz e um prognóstico nada agradável - " agora, o técnico vai demorar para chegar!". Saímos do elevador travado, que teve a gentileza de abrir a porta no entre-andares, e pulamos no 15º.
Como era o elevador social, não se tinha acesso à escada de emergência, somente à um hall com a porta da frente dos apartamentos. E um hall que só era grande se comparado ao diminuto elevador que, não à toa, não resistiu ao nosso peso. Por concorrência de fatores insólitos, estavam sete amigos confinados por tempo indeterminado.
Nos minutos que se seguiram naquele hall eu comecei a pensar sobre a beleza da situação. Seria mais interessante se fossem pessoas estranhas umas às outras, sem dúvida, tendo de se conhecer para apartar o tédio e a angústia claustrofóbica. Todavia, o que ali se sucedesse renderia uma boa história para ser contada.
Renderia, ênfase na condicional, dito que a solução para o problema era simples. Bastaria tocar a campainha dos apartamentos, eram dois, e torcer para que em um deles houvesse pessoas de bom coração que nos dessem acesso à saída de serviço.
E assim foi feito para a minha alegria, afinal eu estava dolorido e cansado, e tristeza, era o fim da aventura que nem havia começado. Desci as escadas com receio de uma nova repreenção do porteiro e logo estava no térreo ainda mais cansado e dolorido.
Tentei pensar nas múltiplas histórias que poderiam ter se sucedido no 15º, mas nada me veio à cabeça. Quis criar um conto e reinventar a realidade enfadonha e não obtive sucesso. Voltei para casa com a ideia na cabeça, dormi, acordei e cá estou.
Não falta de uma ideia nova, lhes trago o retrato da obsessão pura e torço para que seja suficiente. Escrever é terepêutico.
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