Acordei cedo nesses últimos dias. Muitas vezes, via o sol nascer, enquanto caminhava na rua. Claro que nessa porcaria de metrópole o céu é tão sujo e os predios bloqueiam tanto a vista que pouco se pôde extrair do espetáculo. Delírios hippies à parte, o momento foi realmente único. Já era hora: realizei o meu estágio para a licenciatura.
Estou contaminado pela empolgação de me ver livre desse martírio. Não se engane, apreciei muito a experiência, mas, por motivos que eu apontarei mais à frente, foi bem exaustivo. Ficou aquela vontade de desabafar e nenhum dos meus amigos malditos disponível para me aturar. Corro o risco de estravasar no relatório de estágio.
E é por isso que escrevo aqui, antes de mais nada. Usarei vocês, caros leitores, para aliviar essa carga emocional de três dias seguidos de observação das aulas de história do Ensino Fundamental II em uma escola municipal.
Minhas anotações estão repletas de impertinências em razão desse meu tino literário de querer fazer poesia até em papel higiênico se a inspiração bater naquelas horas. Ficou quase um diário, quatro folhas (frente e verso) de obervações das mais diversas.
Muita ironia e projeção de teorias já no material bruto. A ansiedade era tanta que as observações supostamente frias que serviriam de material-base para a confecção de uma tese, posteriormente, já saíam manchadas de ideias e comentários.
Eu tenho essa deficiência no que tange ao cientificismo da área de humanas. Minha produção é sobretudo artística e intuitiva, me esforço para referenciar um mínimo de evidências para o professor não achar (saber?) que eu estou inventando tudo.
Pior ainda quando eu me empolgo, que foi o caso dessa atividade em especial. O sabor da novidade é sempre uma coisa espetacular, nada como a primeira vez! Estava, enfim, reconhecendo outros espaços de aprendizagem que não os livros. Meus objetos de estudo estavam mais vivos do que nunca... e falando comigo!
E disseram tanto... daí as muitas páginas de anotações. Falavam à mim indiretamente por suas ações do cotidiano e, às vezes, até diretamente, reagindo a mim, corpo estranho do dia escolar. Isso era algo que em intrigava. Estava certo que eu não era aluno, mas não tão certo que eu estava do time dos professores - o corpo docente.
O ensino público convulsiona - isso o que aprendi estando na linha de fogo. As relações didáticas viraram enfrentamentos com demonstrações constantes de violência (um dos eixos do meu futuro relatório). Os três dias seguidos de estágio foram angustiantes, não sei como alguém aguenta uma semana inteira naquele ambiente. O recreio era a salvação.
No intervalo, fui me habituando a me instalar na diminuta sala dos professores. À princípio, foi estranho, mas logo ficou mais tranquilo. E, abençoado pela sorte e pela sabedoria do tempo, parti assim que o caos passava a se alojar na rotina. Dormi mal, fiquei estressado e angustiado, estive muito exposto. Hora de descansar.
Como curar o mal estar? Alguns fantasmas só se dissolvem na escrita, e é o que faço agora. Primeiro com esse texto e na sequência com o relatório do estágio. Aliás, chega de enrolar! Mãos à obra!
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