A moça apressada cruzou a rua. Descabelada, cansada, exasperada e desatenta... quase foi atropelada, coitada! Foi um dia cheio e dentre as bolsas, mochilas e sacolas ainda tinha de carregar uma rosa, vê se pode! Coisa de um moço do trabalho da moça, o abusado lhe entregou bem na saída, nem deu tempo de jogar fora...
Fez-se de contente, esboçou um sorriso, afinal estava de fato feliz apesar de exaurída, era o final do expediente de uma sexta-feira. Todos inundados pela animação clichê de todo funcionário, não a toa a rosa, rosa única ainda por cima! Foste por impeto a ousadia? Então por que não ir mais longe e dar um buquê inteiro? - a moça não sabia.
Pensou melhor a questão e percebeu que seria ainda mais difícil de carregar, não melhorou em nada a sua consideração pelo moço, mas viu que "poderia ser pior" e se contentou com o fardo de proteger uma única rosa dentre seus volumosos pertences.
Sentou no banco do ponto por onde passavam os ônibus e acomodou a rosa dentre as mochilas à sua frente. Olhava e não se conformava, não entendia como podia ser a rosa rosa, como existia na cidade, quem as trazia para morrer no asfalto frio ou mesmo no lixo de sua sala - primeiro que veria em sua chega em casa.
Forçou um sorriso, lembrou do aconchêgo do lar, da fofura dos travesseiros, da maciez dos lençóis, do conforto da cama, da telê... mal pode completar o pensamento. Passou seu ônibus direto pelo ponto, contou com a probabilidade de ao menos uma pessoa naquele ponto lotado acenar para o dito cujo, mas ninguém se manifestou.
Levantou de forma abrupta e atrapalhada, o arranjo das bolsas, mochilas e sacolas servia no acento, mas quando em pé não possuia sustentação ou equilíbrio: caiu e derrubou tudo. Desesperou-se sem saber porque, o ônibus já fora perdido e havia quem lhe ajudasse a juntar seus pertences, mas algo faltava. "Cadê a rosa?"
Suava frio e empurrava para longe as coisas que as pessoas gentilmente lhe reempossavam, queria saber da rosa. Encontrou-a somente quando já era tarde: um rapaz pisou na rosa que o moço deu a moça ao se aproximar para ajudar.
Chorou, lamentou, soluçou, olhou para si mesma e se levantou. Aguardando que o próximo ônibus da linha aparecesse descobriu coisas sobre si e sobre as rosas... só soube o que importava manter quando tropeçou e arriscou perder tudo, bem como onde se plantar as rosas em paisagem que a terra perde para o asfalto: em nossos corações.
1 comentários:
Vou ser sincera . Já li vários contos teus,mas digamos que este é o melhor de todos . O mais delicado, o mais fresco, o mais denso. Bom pra caramba . Tantas imagens em umas linhas ! Deu pra sentir o cheiro da rosa! Feliz também reproduzir um pensamento feminino, por que não um buque ?Tudo ficou perfeito . Um texto redondo, fechado, ludico,doce, melancolico ! Dificil ser perfeito,mas bizarramente vc conseguiu, confirmando o que eu te disse uma vez, vc não é n.....
Beijos!
Postar um comentário