Eu estava certo em achar que morreria, afinal... olha só para mim, tenho cara de quem conta muitos dias mais pela frente? Talvez sim, a tragédia e seus gritos eu sufoco do lado de dentro, mostro apenas minha fachada jovem enquanto a alma velha e desgastada espirala para fora da existência. O desejo de viver apodreceu em seu adeus...
Sinto saudade do Tédio, qualquer coisa que já fui, em sua lembrança, tem alguma ternura por tempos em que foi possível viver em paz ou na posse de uma angústia doméstica que pudesse ser expurgada em textos e desabafos. Hoje me exponho e filtro qualquer tristeza, mas de nada funciona por então saber que o eu escritor, o da palavra, não existe.
Aqui reina a farsa, sei que só fui algo quando não precisei dizer nada, apenas estar lá para ser - seja algo para alguém - essa deveria ser a máxima na vida de qualquer um. Aqui eu não sou, aqui eu não sinto: aqui eu me justifico. Mas existe ainda a alternativa da existência de rotina, onde você pode existir aonde for possível se encaixar. No entanto...
Entre pertencer à uma lógica maior, ter sentido em uma existência mínima e conveniente; e tentar o resgate de si em justificativas generalizantes o resultado é o mesmo: a morte. Já me enganei ao pensar que a escrita, o ser escritor, seria uma constante ascendente na aprimoração do espírito, na ciência de si... sei agora que é a ciência do engano.
Você se enxe de palavras e perde o passo, se preocupa com o registro e perde a experiência. Haveria, no entanto, o consolo de que o registro do escritor, bem versado nos auto-enganos, pudesse gerar memórias que alimentassem melhor o coração... lêdo engano: é impossível viver no passado - dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar.
Os espaços ocupados pelos eu's passados não podem ser ocupados pelo eu de agora, me aloquei, por consequência, em uma angústia inédita. Expandi-me para comportar cadáveres, o universo já não está no limite do Tédio - enxergo longe agora - mas o sentimento não deixou de ser o que tem sido há tempos: o luto.
Essa sensação de abandono eu não suporto, mesmo homem feito com quase vinte e um, regrido a emoções primárias e tenho vontade de fugir... como de fato fujo - resultando no abandono até de mim por mim mesmo. Ninguém aguenta (nem eu)!
Crescer deve ser algo disso: abrir mão de parte de si em virtude do que está por vir, sagrar-se ponte onde nada fica e tudo é passageiro... onde nada é seu, exceto a estrutura. Sou tão errado ou egoísta em querer manter ao menos uma coisinha, ou melhor, ao menos uma pessoa? Quero ela, quero aquele momento, quero o exato sentimento!
Mas momentos são momentos, justo assim mesmo "momentâneos", já passou. Estou aqui agora, sou aqui: uma ponte por onde só passa o vazio.
Sinto sua falta.
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