Tudo aquilo que desperta a vontade engatilha a angústia.... e em matéria de amor, a vontade-maior que faz parte do indefinível e injustificável, produz-se, por conesequência, uma angústia proporcional. Dói e vai doer mesmo até que você se dispa de seu desejo.
"... e ninguém quer matar o desejo..."
Só machuca quando eu penso nisso, descobri que a distração é de fato possível. Distrair-se das memórias mascarando-as com um racionalismo feroz que as toma por "experiências vividas" destituindo-as do valor emocional; distrair-se de si mesmo na rotina de tarefas e sensações supostas e adequadas - a existência conveniente.
O problema é quando esse mesmo racionalismo te faz indagar sobre o sentido e propósito das coisas, nunca fui daqueles que fazem o que fazem apenas por fazer. Vagar sem sentir é o mesmo que estar parado, de nada vale estar bem e disposto para vivenciar aquilo que verdadeiramente não desperta mais do que um interesse artifical.
Ninguém quer matar o desejo por que é nele que existimos ou, indo mais além, ninguém pode matar o desejo, pois seria suicídio. No entanto, é importante lembrar que o próprio desejo mata quando não é correspondido pelas possibilidades de ação.
Diante do impossível, e sou desses desequilibrados que almeja o que vai além do comum, não há escolha senão ser mutilado entre as lâminas da apatia de si e do desejo frustrado. Não existe resposta certa, apenas a mais funcional. A apatia ao menos permite-lhe seguir em frente de cabeça erguida ainda que por dentro você esteja recolhido.
O apático tem postura diante do mundo, articula as palavras e se mete a diluir parte do desejo frustrado em outras ações mais produtivas. É um desvio de energia que garante a satisfação dos que cercam o angustiado, ele deixa de parecer mal, então deve estar bem.
É possível andar de cabeça erguida por que não significa nada, um ato sem valor é facilmente praticado ao contrário dos ato simbólicos que precisam de respaldo dos sentimentos. O que se tem, portanto, é uma vida mais fácil... porque não significa nada.
Já o fustrado é tomado pelos simbolismos. Propriedade de seu discurso, ele tem de se manifestar sobre a angustia. Sabe (ou aprendeu após as repetições de si mesmo) o que significa levantar da cama, entendeu que a rotina é uma sentença, por isso se larga.
Por isso a má vontade... má porque destrói, má porque mata. O que fazer então? E nem adianta propor que nada seja feito, pois o nada é domínio da apatia. Qualquer escolha é a escolha errada, afinal, não temos escolha: seremos sempre aquilo que somos.
...e nunca será suficiente - nascemos da falta, do desejo, o vir-a-ser de uma mãe desejosa de algo a sua imagem e semelhança (suposta). Somos apenas uma possibilidade de nós mesmos e, possivel, provável e fatalmente, a errada.
1 comentários:
Luis,muito prazer, minha primeira vez aqui e encantada com sua forma intrínseca de organizar as palavras fazendo fluir, simples assim, meus sentimentos.
Um abraço
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