Muito ainda será dito daquela que me deixou sem palavras, mas tendo de avançar em minha teimosia de dizer o indizível no silêncio morno das palavras escritas por algum lugar, faço desta madrugada primeira em terras paulistas a minha linha de largada...
Não é saudade o que sinto. Vocábulo poético, encenado, plástico, alvo de inúmeros devaneios de um ulfanismo tolo daquele que se orgulha por existir tal palavra somente em nossos dicionários. E bem que poderia morrer por lá mesmo no pai-dos-burros!
Não é saudade.
Minha morena me faz falta, deixou um buraco terrível que duramente será preenchido. E veja lá! A saudade, bem ou mal, te estufa mais do que esvazia, te enche de poesia naquela tristeza encenada de velho que suspira vendo pôr-do-sol na cadeira de balanço.
Não é saudade.
Faz falta aquele abraço, aquele beijo; faz falta esse amor presencial. Mas, veja, não me trate por vulgar! Presenteou-me muitas vezes apenas com sua companhia. Foi difícil aguentar seu silêncio no começo, confesso. O olhar que me buscava tão ansioso, que esperava tanto de mim, demorei para perceber que era coisa boa...
Se me olhava assim era porque eu existia.
Tratei logo de responder, de existir mais e mais para ela, como sol de estrela única brilhei até não poder mais, queimei no calor intenso de Pernambuco na paixão que nos consumiu em cada troca de olhar. Tornamo-nos um casal e tratei de oficializar: a pedi em namoro.
O problema da falta é que ela é temporária. Sabe, posso ser único pelo número de acasos que me constituem, mas não insubstituível. Disciplinam-se muitos na saudade, vivem-se vidas inteiras nesses cultos à tristeza gozosa, mas não à falta.
É questão de tempo até que ela descubra... se é que já não sabe. Vai ela encontrar quem a beije e a abrace, quem esteja lá; vai ela procurar se não a quem a faça tão feliz quanto eu acredito que a tenha feito por seu sorriso, ao menos quem a complete mais do que faça falta como eu agora faço nessa noite de despedidas demoradas.
Com o tempo, esse senhor de desígnios muito mais misteriosos do que vou fazendo parecer, também eu trataria de me aprumar para novos mares. Engraçaria-me com alguma loira aguada de shopping center ainda mais preguiçosa do que eu para assistir tv a cabo o domingo inteiro pescando filmes na preguiça de ir à locadora escolher.
Aí sim viria a saudade! Contaria tantas vezes as histórias da viagem das viagens até que virasse apenas isso: uma história. Quase como um filme que de rodado tantas vezes esbranquiçasse mais e mais a cada exibição nova: "Foi apenas um sonho?"
Visão trágica, mas realista - tragetória da falta.
Nesse momento, minha namorada e aqueles poucos que ainda confiam no romantismo devem estar indagando do porquê de continuar com essa onda, por que pedi-la em namoro e enchê-la de juras se penso dessa forma? Ora, porque eu a amo!
Ter é ter medo de perder - o temor denuncia a posse.
Sei que fazer falta é mais perigoso do que deixar saudade, mas, ao mesmo tempo, é real. Minhas palavras tem sabor agora por tudo aquilo que fiz ao lado dela, ela sabe o que sinto, nem precisaria escrever... já disse, já demonstrei - se escrevo é por força do hábito.
Somos nos dois contra o mundo... até contra nós mesmos! Suspeitaremos de alternativas, vislumbraremos outros destinos, mas a nossa história é das poucas que valem a pena escrever. É intensa, verdadeira, não é para se jogar fora só por que seria mais fácil...
Eu aposto nesse amor que, como toda aposta, tem os seus riscos. Ela também parece ser louca o bastante para aceitar a jogada... e é o único jeito de se tirar a sorte grande. Machuca a sua ausência, mas não há porque desistir de quem me faz tão feliz.
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