O que é desalento? Talvez olhar para o peito e convalescer de pesar e de dor, sentir e ver a mancha escura escondendo o coração de qualquer alívio. Pesa muito, não tem como! Dores e vícios em uma tumoração aguda no peito, pesam até os pulmões vacilantes, incertos e culpados diante do dilema de permitir a entrada do que vem de fora. A novidade é perigosa.
Já desisti disso tudo há muito tempo, incontáveis vezes, mas continuam me obrigando a jogar. Suplico pelo abate - haverá um dia, há de chegar! - o inimigo ainda se achega, cerca, mas não dá o bote. Nessa noite, trocamos juras: ele me promete a piedade e eu lhe indico o que fazer com a carcaça...
- Dormita, alma, me aguarda. Não esta noite, em uma próxima, ainda te levo daqui, pedaço a pedaço...
- Leva-me de uma única vez! Ou, se assim em partes tiver de ser, comece logo a travessia!
- Se em minha piedade, atendo a tal pedido, hei de levar o quê na primeira viagem?
- Qualquer coisa, já não me importa mais nada.
- Que tal a massa que abriga teus pensamentos? Cumpre-se assim a evasão total que tanto busca? Tomarei tuas ideias, nenhuma vida passa em branco, hei de usufruir dessa sabedoria que em segredo tanto te orgulha.
- O que preferir, esse cientificismo senil já não me apetece, não entenderia o mundo menos do que entendo hoje.
- Levo então teu coração, devoro-o como antigo guerreiro na busca da virtude de seu oponente!
- Faz-me um favor afastando esse coração covarde! Tudo o que fez foi bombear o veneno de um amar corrosivo, não me surpreenderia se de repente o encontrasse dez anos mais velho do que o resto de meu corpo. É minha pior parte!
- Sirvo-me então de teu estômago, de teus rins! Filtrar tanta angústia deve ter lhe dado uma resistência invejável.
- Resistência? Só se for como eufemismo para a vocação para saco de pancadas.
- Sobra-me o que então?
- Entrego-lhe minhas juntas e minha espinha.
- Como?
- Tendo de escolher uma parte, fico com todos os pontos de tensão e alívio que permitem que eu me erga depois de cada queda, é meu maior (e talvez único) feito.
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