Essas palavras, as que lê e as que virão, são um bálsamo, ou assim prefiro acreditar. É mais poético pensar em um mundo onde a narcose ainda tem um movimento de graça, onde o alívio é mais ritualizado do que o ato de engolir uma pílula, pois que dos males do mundo que tanto nos afetam, ter de descer goela abaixo qualquer desgraça processada é certamente um dos piores. É dessa frieza que quero escapar, mas todo despertar deixa um gosto ruim na boca - devo-me lembrar de não confundí-lo com arrependimento.
A infusão das palavras inquisidoras me acalma, perguntando a mim mesmo se fiz a escolha certa, partindo de toda as experiências malogradas no mundo dos sonhos, terei sempre de assentir e seguir em frente, já que, de lá, guardo vagas lembranças (de um viver muito vago). Vale a pena amar de verdade, sinto agora que vou à algum lugar.
Lembrei-me dela, nesta manhã, pois que ela sempre me acompanha em meus pensamentos. O ônibus passava por uma igreja e não pude deixar de notar que possuía somente uma torre. Não sou detalhista, não nesse aspecto, e só reparei por ela ter mencionado uma dúvida antiga em certa ocasião - por que algumas igrejas tem somente uma torre e outras tem as duas? - tentei responder, mas realmente nunca tinha pensado nisso.
O engraçado é que fui eu quem pediu a ela que me levasse à igrejas quando estive em Recife. Em compensação, eu, o fã de igrejas, não prestara atenção nesse detalhe. Ela confessou ainda que já houvera inclusive perguntado a um padre, quis logo saber, nada fica impune, está mais do que certa. Acho que sempre procurei inventar respostas preocupando-me ocasionalmente se estão certas ou erradas, fazendo sentido estava de bom tamanho, enquanto que ela quer saber de verdade (ou da verdade).
Na amada, tudo é sublime, temo que mesmo nosso crescente companheirismo ainda será embarreirado pelo próprio amor que o sustenta: partes dela ainda me são estranhas turvadas na paixão. Sei que em algum lugar do coração dela, minha morena se perde como eu, tem dúvida e medo, que nem sempre estou preparado para escutar (mas sempre disposto!).
Sei... mas sem saber direito.
Tento sempre projetar no discurso um amor que é todo virtudes, sendo as vilãs apenas as circunstâncias. Saudade e tristeza ficam apenas como acessórios para um final triunfante de felicidade e esperança. A verdade é que me intimido, guardo meu lado mais sombrio por não conhecer muito bem o dela, por saber que nem sempre sentimos coisas boas, certinhas, fáceis de ouvir, e talvez seja mais uma questão de discernimento do que sinceridade.
Mas as vezes ele escapa, como agora e, para essa angústia,
somente o bálsamo das palavras...
Existem momentos difíceis; coisas que deveriam trazer felicidade se tornam verdadeiros castigos assombradas pela insegurança: vejo-a sorrir na fotografia e sinto o coração se abrir em dois na saudade e queimar no ciúme, no pensamento de que não tive nada a ver com aquele sorriso. Penso comigo e vislumbro um cenário onde sou completamente dispensável. Não a quero triste, mas sua alegria me maltrata; existem sentimentos difíceis.
O importante é que ela continue a sorrir, se eu desaprendi a leveza da alegria, se a melancolia me faz tomar um mundo de coisas boas como injúrias, que eu aguente, que eu me segure nesse bálsamo, pois esse amor corrosivo, errado, sem sentido, minha pior parte, é também o que há de mais verdadeiro e intenso em mim e a ela o confio, o devoto.
Seremos felizes apesar de meu amor.
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