Nos últimos dias, tenho feito a reflexão sobre o bem e o mal, os dois principais axiomas que governam o juízo dos homens (na alma de alguns, talvez os únicos). Na era dos relativismos, é pertinente, ou assim me parece (observação presente pois, como o relativismo, o politicamente correto também assombra a modernidade e devo temer emitir opinião), resgatar disciplina na compreensão e ter um chão antes e me preocupar com o horizonte das questões.
Dado exercício contou com questionamentos muito próprios, reflexões que me acompanham desde os primórdios de minha educação de moral franciscana. Tal abordagem me pareceu válida ao ler o livro de Camus, A peste, e também pelo pouco que pude extrair de Hegel em sua Razão da História, pois consegui me despir do receio de vulgarizar os pensamentos pela religião - é possível ser inteligente usando de elementos da filosofia cristã!
Por mais que Nietzsche a tenha (e, em parte, eu também) como "metafísica para pobres" e muito do cristianismo se legitimar mais pelo tempo do que pela qualidade e pertinência de sua mensagem, devo tributo a algo que por tantas eras habitou e ainda habita o coração da humanidade. Importante lembrar que sou ateu, é claro.
Mas saindo da teoria, do que é pesado e de difícil digestão, voltemos ao que flui em nossa interioridade, dúvidas que me ocorreram e que provavelmente chegaram a tantos outros ao se depararem com os ensinamentos da Bíblia. Sabem? É aquela coisa, no que a Igreja não nos pega pela fé, ela nos arrebata pela culpa...
Desde pequeno me pergunto se afinal sou uma boa pessoa, é inevitável. A ideia de céu e inferno nos impõe essa reflexão, se tudo o que há de mais sublime (e terrível) está no outro lado, devemos nos informar sobre em que pé anda o nosso caso lá em cima. A crença em Deus acabou se esvaindo, mas a sensação de culpa e intranquilidade ficou. Em qualquer ideia de auto-apreciação, e em um narcisista isso é fundamental, tenho de voltar:
- Sou uma boa pessoa?
Completamente envolvido pelos relativismos deste estranho estágio da modernidade que habitamos, e confundindo com lucidez, eu me perdi na questão, julguei que talvez a alma humana fosse complicada demais para se chegar a uma resposta. E realmente é, o problema é que temos de pensar o impensável as vezes, é preciso abstrair, metaforizar, reduzir, simplificar... não podemos deixar a vida passar na escolha da palavra seguinte.
Uma hora, temos de arriscar.
Mais do que isso, eu não podia deixar que angústias particulares tomassem conta da minha compreensão de mundo, talvez a alma humana, como um todo, não seja indecifrável, mas a minha seja, ou por minha perspectiva prejudicada (afinal, só me enxergo através do espelho) ou por meu bom espírito ser mesmo endemoniado. O que é em mim misterioso, nos outros consigo discernir: vejo pessoas boas e más, vejo predominância de ora virtude, ora vício; em cada um a melodia da alma toca em um tom bastante claro e definidor.
Li, outro dia, um texto um pouco fútil sobre se colocar no lugar dos outros. Bom, é o que resta ao egoísta, imaginar como o outro se sente, pois a empatia não lhe fornece o subsidio para boa ação. Tento aqui seguir o conselho sem medo de parecer óbvio e superficial, tento aqui reconhecer que existam pessoas de coração bom e não danar a todos por minha dúvida e melancolia em relação ao mundo. Livro-os de minhas angústias em meu juízo.
Talvez isso me torne uma pessoa boa, quem sabe?
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