Apesar de achar tudo muito estranho, reli antigos textos meus e percebi que a sensação de aprisionamento é uma constante, seja pela rotina pesada ou falta de perspectiva. No entanto, e aqui talvez tenha mudado algo, o momento parece ter subvertido essa lógica. Geralmente o poder realizador é que me libertava, doses de realidade sorvidas ao acaso me despertavam de longos sonhos, epifanias dignas de um "eureca!", agora o próprio saber, ter clareza, sentir que rabisco o mundo com minha vontade, é que me parece encarcerante.
Prisão não é ser ceifado de um futuro, mas, ao contrário, ter clareza sobre ele.
Prisão não é ser ceifado de um futuro, mas, ao contrário, ter clareza sobre ele.
Sei demais, ou acredito saber, o que dá no mesmo. Em nossa ligação com o saber, por mais científico que seja, há um elo de fé que o realiza como verdadeiro e digno de confiança. Sei tanto, me esqueço tanto - faltam-me até as palavras. Afinal, ao contrário do que se pensa, a inteligência é mais sobre selecionar e articular os dados relevantes do que acumular toneladas de curiosidades sem mobilidade. Sou leve, esperto e angustiado. Livre pra sofrer.
Tem algo vindo aí.
Talvez isso tudo seja coisa daquele velho astuto, o pessimismo, agora munido de toda a retórica que adquiri nos últimos anos e bem protegido sob toda a presunção de que dispõe minha personalidade narcisista.O que torna o percurso narrativo até aqui estúpido, na verdade, e até ridículo, mas é como diz Alvaro de Campos:
"Todas as cartas de amor são
Ridículas
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas"
E sigo amando e sigo escrevendo. Nisso, sei que serei livre.
Apesar de mim mesmo.
Apesar de mim mesmo.
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