Música

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11 de novembro de 2011

Você não ficou sabendo

Caso não saibam, estamos em guerra, caros leitores: uma guerra pela informação. Sou estudante de História na USP e já devem, só com isso, ter me enquadrado como maconheiro e vândalo. Estou errado (e condenado!) mesmo antes de falar. Isso não é democracia, quer dizer, talvez seja para o governador... Depois do que aconteceu, que vem acontecendo, agora é hora de fazer barulho. Se te incomoda, azar! Pois é meu direito e mesmo se no início for bagunça, se nossas palavras indistintas se perderem no grito que agora se alivia, calado por tantos anos de descrédito do movimento estudantil, tudo bem, pois qualquer coisa é melhor do que aquele silêncio mórbido que perpassava não só movimento, mas toda a sociedade.

Você não ficou sabendo, mas o movimento estudantil é heterogêneo, somos um segmento da sociedade, não um todo coeso, e possuímos várias lideranças além de simpatizantes sem qualquer agremiação. Se você diz que somos todos maconheiros, sendo que a maconha não é nenhuma unanimidade (em qualquer parte da sociedade), se você diz que todos apoiamos e estivemos na ocupação (haviam lá pouco mais de 70 e ocuparam-na contra a decisão da assembléia, se exaltaram), bom, aí me dou ao direito de generalizar também...


Você não ficou sabendo, mas tendo de generalizar, eu te coloco do lado do governador, do reitor, de quem acionou a tropa de choque, de quem é conivente com a violência arbitrária daqueles homens sem identificação que atacaram um grupo de estudantes dormindo que, sim, desobedeceram uma ordem judicial, mas estavam desarmados e rendidos mesmo antes de todo aquele expediente tático. Eram a minoria e seriam vencidos em assembleia a ser realizada na quarta. Usavam máscaras? Depredaram o patrimônio? Se você defende mais os bens materiais, um patrimônio que não é mais seu (a Universidade está cada vez menos pública), do que a dignidade humana, assim não me deixa escolha...

Você não ficou sabendo, mas agora tenho de te odiar em segredo.  A cada vez que põe em descrédito o movimento inteiro por uma frase que ouviu na televisão, por uma charge que achou engraçada, por uma vulgarização de pessoas sérias, inteligentes, que já não tem paciência pra lidar com isso e precisam gritar porque ninguém se dispõe ao diálogo, enfim, a cada vez que acha que calado já estou errado, coloca a nossa amizade em risco. Reconheço, e muitos reconhecem (não posso falar por todos, mas o bom senso deve ser maioria) que a sociedade ainda não está madura para discutir a questão das drogas, mas o problema da segurança pública é óbvio demais para continuar uma incógnita. Você se sente seguro?


Você não ficou sabendo, mas nossa luta é pela abertura da Universidade Pública à sociedade, muito mais do que pela entrada da maconha ou saída da polícia. Que fique sabendo: lutei por você, lutamos todos, todos aqueles revoltados sem causa tinham você, eu e toda a sociedade, sob a qual deveria estar à serviço a faculdade, como pauta. Nosso reitor é peça estratégica de um processo de privatização (incluindo a criação de cursos pagos) que separa a USP rica, que dá lucro com pesquisa, da USP pobre, esta preocupada em coisas tão banais como... o conhecimento. Ele optou pelas catracas quando era diretor da Faculdade de Direito e, por ele (bem como todo o projeto que está por trás dele), a Universidade fica fechada. E uma Universidade quase deserta vai ser mesmo insegura - sem ninguém para ouvir os nosso gritos.

Você não ficou sabendo, e provavelmente permanecerá sem saber sendo este blog tão modesto e tua ignorância e vontade de permanecer no escuro tão vasta, que essa história tem muitos lados além do que a grande mídia mostra. Tem o meu e de outros com ainda mais propriedade sobre o assunto como esse esse esse esse... é só pesquisar.


Eis aqui o testemunho daquele que estava lá e viu e vê todos os dias essas coisas que você insiste em não saber. Aperte os olhos, pois a claridade incomoda depois de tanta escuridão; aprume os ouvidos para distinguir as vozes no zumbido crescente que corta o silêncio; prepara o espírito, abre o peito. Se a ocupação da reitoria o lastima, se a maconha ainda provoca confusão em seu juízo, desse último movimento, não tem como não deixar-se envolvido:

"O coração está ocupado." - agora você sabe.


(fotos tiradas com meu celular durante o ato do dia 10/11/11 no centro de são paulo, respectivamente concentração no largo, tomada das ruas e assembléia no salão nobre, muitas outras pela internet)

3 comentários:

Angélica B disse...

Adorei o texto, sempre disse que você escrevia lindamente bem!É fundamental não perdermos esse momento, os jovens já estão a mais de 20 anos calados, sem força para reagir as atrocidades que a nossa sociedade vive. O caso USP é apenas o início, mas já tenho pensando em outros lugares que sempre ignorei. Nos últimos tempos tenho recebido notícias de pessoas que são expulsas de suas casas, pessoas simples que são massacradas pela polícia nas periferias e ninguém se comove. Chegou a hora de fazermos a nossa parte e temos que aprender a fazê-lo.

N. M. disse...

Oh, Louis, brigada por escrever este texto. E que bom que o outro lado, o lado de quem vive, quem acredita e quem luta tem voz. Na internet, que seja, com compartilhamentos, fotos montagens estranhas no facebook e em blogs como o teu... Já ouvi boatos que há pouco menos de trinta, quarenta anos, gritar tão alto ideias tão ~ subversivas ~ era praticamente impossível, ou mais difícil, ou causaria problemas maiores. A grande mídia grita alto, e ovelhinhas acéfalas a seguem sem exigir maiores explicações. Engraçado como sempre foi assim. Mas nunca é pra sempre. Talvez em cinco anos tudo esteja praticamente resolvido, e a usp não será um latifúndio exclusivo de uma minoria que passa no vestibular. talvez daqui a cinco anos continuem com os mesmos argumentos ridículos de 'maconheiros', 'pm neles' bla bla bla. Mas o presente ou o futuro sempre se transformam em passado um dia. e o passado deixa as coisas mais lúcias, às vezes. E todas essas vozes que hoje gritam e denunciam ecoam. Por mais que seja desigual e até mesmo injusta a força de cada lado, por mais que tudo esteja confuso, disperso, heterogêneo e meio vazio, por mais ridicularizado que esteja sendo em um país onde a educação é tão precária e o acesso ao conhecimento tão negado, e a arte, por exemplo, é simplesmente um luxo... eles não venceram, e não vão conseguir tudo tão fácil. Afinal, estamos vivos ainda e somos jovens, muito jovens, pra sempre jovens. =)

M.M. disse...

Mandou muito