O texto começa com uma introdução de tópicas pouco ou nada interessantes, talvez provocativas, mas sem valor em si. Há alguma estética bem intencionada no uso de palavras mal pensadas em seu significado, mas de um sonoridade e fluência que torna a leitura agradável. O texto é apresentável e chega no ponto de encarrilhar o discurso.
Você se decepciona e, no entanto, se deixa levar: não há argumento. São parágrafos que fluem e ao mesmo tempo causam estranheza, na curva do rio da consciência se acumulam detritos de uma ideia infantil, de confusão e incompreensão, que só vem a ser recolhidos pela arrematada final que, ainda que nem se quer apresentada ou proposta, se sabe que virá.
E é isso, depois vem a despedida e a tal reviravolta como se eu lhe dissesse que entreguei o corpo de meus trabalhos escritos por não ter nada a dizer sabendo que o que quer que fosse, seria o mesmo, mas (d)escrito diferente. Estou escrevendo o mesmo texto várias vezes... estou sendo o mesmo há muito tempo.
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Parti em uma jornada de auto-conhecimento recentemente, sempre nos impomos a reflexão, mas desta vez traduzi o impulso em ação e me envolvi no movimento estudantil - o que isso tem a ver? - talvez se perguntasse. É simples, a despeito da auto-imagem intuitiva, a ideia imanente de nós mesmos, existe um segundo movimento de identificação através do outro, ver se refletido no olhar alheio.
Estive lá, no coletivo particular dos estudantes, esse segmento da sociedade que pouco a pouco retoma a sua voz e, de dentro, expus-me a mim mesmo como parte daquilo, seja no reconhecimento que tinham de mim como parte do grito ou voto na assembleia ou mesmo mais um a ser educado nos preceitos revolucionários... embora essa última esteja muito errada: minha opinião ainda peca na bibliografia, mas é perfeitamente consciente.
Agora chega o terceiro movimento dessa dialética da identidade, recapitulando: do uno ao todo e agora ao uno novamente, de volta à auto-imagem. Não tanto um retorno, mas um fortalecimento espiralado incansável em que nos sabemos indivíduos por aquilo que podemos fazer em conjunto sem se apartar da intuição, pois nega-la em definitivo seria se apartar de si mesmo, tornando fútil o exercício de auto-conhecimento.
Confuso? Com certeza! Meus parcos conhecimentos dessa tal de dialética talvez tenham tornado tudo ainda mais confuso do que já é, mas acho que é por aí, não sou escritor para querer dizer algo e escrever outra, digo sempre o que quero dizer... ou pelo menos tento. Enfim, e o que aprendi com isso tudo?
Meu eu ampliado é tão frustado quanto o diminuído. O egoísmo infantil se transforma em um altruísmo igualmente ingênuo ao querer abraçar o mundo de grandes causas e estimular a ideia do grande destino que me espera (agora no contexto da luta social). Descobri agora o porque: ainda luto contra o Tédio.
Antes era o Tédio do ser, um estado de ansiedade particular, agora se amplia para o marasmo de uma sociedade inteira que mal percebe a sua condição. Analfabetos políticos, analfabetos de si mesmo (esse que é o pior), parece que nem sentem a fome e como é ridícula essa necessidade de entretenimento, tão similar ao circunstancial do Tédio particular, mas pertencente a uma ordem natural das coisas que os quer assim.
Assim é fácil reinar neste circo de idiotas com minha inteligência mediana, se o que desejava era um destino glorioso, posso ser comigo alguém excepcional... sem que ninguém saiba, sem que ninguém perceba. Mas não agora! Depois desse mês turbulento, o egoísmo-altruísmo prossegue e percebo que toda riqueza conquistada a despeito do outro é mentirosa e criminosa - não é esse o tipo de poder que anseio.
Agora quero ser Gandhi... isso não vai acabar bem.
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