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8 de janeiro de 2012

Pai,

E depois de tantas críticas, resta-me fazer um elogio - quem diria? - Talvez você mesmo, o remetente principal, saiba mesmo antes que eu o diga; você que, assim como eu, se reserva o silêncio quando carrega um mundo de sentimentos no olhar (ou num abraço apertado que resume toda a saudade). Já protestei incontáveis vezes me emocionando em relatos melodramáticos acerca desse pai que nunca me ensinou a andar de bicicleta - que espécie de pai é esse?! - quando, bem sabemos, é algo que se deve muito mais ao circunstancial, ao fato de você ter se mudado da casa com o quintal grande e as bicicletas sem que eu tivesse a chance de tirar as rodinhas. Mas o lamento ecoava, não parava, reverberava nas paredes dessa caverna de lembranças, contos do pai que não me ensinou a fazer a barba, a falar com as garotas ou mesmo a chamá-lo de "senhor", quando, bem sabemos... isso tudo não passa de perfumaria no relacionamento pai-e-filho, material para comercial de margarina.

O amor de pai e filho é algo muito mais complexo, denso, conflituoso e acho que nós conseguimos apesar ou até por tudo. E tudo isso é muita coisa para se carregar, mas mesmo assim trago comigo, te levava, pai, para passear em pensamento no shopping outro dia, muito embora estivesse distante, quase certo que trabalhando. Perdia-me nas prateleiras atravessadas de uma certa livraria enebriado por um brisa secreta solta pelos livros que me chamavam um a um. A mesma livraria que você me levava, aquela que eu achava pior que a outra por ter menos CDs, mas de sua predileção ao buscar suas bíblias de Matemática e os infantis para meus irmãos menores que entraram mais tarde na nossa história. Aprendi a gostar de lá, reacendi meu gosto pela literatura nos últimos anos e você é passa-chave, pai.

Deu-me um lugar, herança imaterial, me ensinou algo enfim, coisa que eu e até você, talvez, duvidava ser possível ao me presentear tantas vezes para demonstrar seu afeto. Tenho agora aqueles corredores de lembranças, de histórias minhas que se cruzam com os universos criados pelos meus autores favoritos e os ainda por descobrir, uma atmosfera de aventura e paz no ritual de saudade que me acalma quando tudo o mais se mostra caótico e confuso. Estando lá, era só fechar os olhos e via meus irmãos menores buscando os livros de figuras em relevo, a irmã adolescente procurando o CD da moda ou livro teen de dicas de relacionamento, meu irmão mais próximo, comigo, nas ciências humanas pensando em investir em literatura russa. E você, pai, pegando aquele livro de Matemática que já tem, só por ser edição atualizada, e nós dois trocando olhares em uma admiração mútua... mesmo sem haver um entendimento do porquê exatamente. Quando tornei a abri-los, estava lá, sem rumo e sozinho, sem saber o que buscar, mas sabendo que a busca em si era o que procurava.

E em meio a tristeza por aquelas coisas todas que nem ouso falar, ter aonde ir é fundamental para quem está perdido. No meu caso, a Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos Por isso, agradeço. Agradecimento público, retratação aos que concluíram por mim que você foi menos que um pai para mim, quando foi tudo o que eu poderia esperar, e história de amor diferente endereçada àqueles que, assim como eu, precisam ocasionalmente de quem os aqueça o coração em tempos difíceis com contos de esperança. Obrigado, pai.

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