Detesto me definir por opostos e brincar com ideias de contradição. Sinto-me como a adolescente que quer ser o centro do mundo criando seu primeiro perfil virtual, aquela que você tem como amiga por piedade, que odeia falsidade, mas sorri aos inimigos, odeia a inveja, mas a instiga; que é dócil e amável com os que lhe forem gentis, mas uma megera declarada aos que lhe traírem as expectativas de alguma forma.
Às vezes tenho a impressão de que, se acometidas por um surto de ansiedade e tendo de escolher uma única contradição para se definir, essas mesmas meninas diriam simplesmente que querem ser tratadas como princesas para se permitirem se comportar como prostitutas... contradição inexistente, se nos pusermos para pensar, pois ambos são geralmente ostentados como arquétipos de figuras femininas frágeis, fantasias de uso masculino, ainda que de lados opostos da moral dominante. E se não falo dos meninos, não é por ser machista, mas por estes geralmente nem tentarem ser complexos. Homem tem orgulho de ser burro, bruto, e se faz valer por queda de braço. Quando muito debateriam a possibilidade de continuar a xingar os colegas de viado e bicha sem que isso os tornasse de alguma forma homofóbicos.
O ponto é que a definição por contradição, quando se almeja esboçar uma identidade complexa, indefinível, costuma ser um tiro que sai pela culatra, ainda mais quando feito de forma tão leviana. Pois, fazendo dessa forma, sou forçado a concluir que ou essas pessoas simplesmente não sabem o que querem ou que sua superficialidade é tamanha que passaram a considerar como opostos peças de um mesmo lado do tabuleiro por não entenderem totalmente as regras do jogo.
Infelizmente, no entanto, tenho que me render ao jogo dos opostos quando penso em minhas bebidas favoritas, o café e o suco de maracujá, estimulante e calmante, quente e frio, negro e amarelo... e assim vai. É fútil, mas diz muito de minha personalidade (também fútil). São os dois reguladores do mal sem nome que me imerge em depressão, noites/dias que só quero dormir, mas que também é capaz de atar chamas no espírito, imolar a vontade em surtos de ansiedades devoradoras. Sou instável, não complexo e, tendo de optar por um dos descaminhos de quem se vangloria de ser contraditório, me colocaria entre os que não sabem o que querem. Afinal, será que algum dia eu soube realmente?
Talvez eu nem precise ser tão crítico e haja virtude na contradição como também, e isso é certo, há vício na coerência (alguém que assume um posicionamento político de esquerda não deveria almejar tanto a estabilidade). Mudar nunca é um processo tranquilo e estou mudando. Se soubéssemos de todos os resultados de antemão, não haveria superação ou amadurecimento. Desse modo, a postura mais íntegra, digna, o meu eu evoluído, só viria mais tarde, por hora ficando essa falta de jeito de uma segunda puberdade, na sensação de um coração com sentimentos que não cabem no peito e esbarram em tudo pelo caminho. Talvez, só talvez, seja bom sinal que o ânimo revese suas súplicas entre maracujá e café.
E da busca por uma tranquilidade regulada, esse equilíbrio metabólico que não permite que o espírito se parta, é possível que se revele alguma coerência, esse querer ser íntegro, comigo e com o mundo, pois, acima de tudo, o que sobrevém nessa tristeza, e estou de fato triste, triste e só como nunca na vida, é a busca pelo pertencimento, seja a uma causa, a um lugar ou até a mim mesmo.
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