Há uma trilha que toca sempre ao fundo enquanto me meto a viver e invento de ser algo além de um momento perdido na imensidão do tempo, do Tédio. A música tem o peso de uma ordem, de uma sentença que me esmaga entre o medo de não ser tudo aquilo que acredito poder e quero ser e a frustração por tudo aquilo que eu deixei de ser, de incorporar, de fazer. Entre esses dois grandes vilões, grilhões da rotina e da neurose, pereço em mais um texto. Que música, que trilha é essa de um poder quase místico, xamânico?!
Não a identifico, mas sei bem de seus efeitos e tento marcará-la com o silêncio, com a música dos fones do computador ou mesmo com a estática da programação inóspita (sem vida inteligente) da televisão. Nada disso adianta, nada cala a melodia sinistra! Pois a música sai do próprio peito, ecoa no coração, vem da alma que faz de mim instrumento da angústia: há uma tristeza irredutível que não cessa de me caçar, de me guiar como maestro em réquiem por todos os sonhos perdidos, por toda vida em mim que deixou de acontecer.
Enfeitiçado, saboreio de vícios em cadeia que se disfarçam de vontades, de desejos sinceros e as vezes até mesmo de paixões. Tenho à mão esses tantos amores degustáveis e efêmeros, livres de qualquer responsabilidade, livres de terceiros, sendo evidente que, dessa forma, amo sozinho. Sinto como se tivesse perdido todo o fôlego, todo o impeto de fugir daquelas coisas que me pertencem (dá muito trabalho!) e não raro eu me entregue, não mais para o outro, mas para mim mesmo... e fume e passe noites em claro e... me torne o Tédio em pessoa, assim me esquecendo (voluntariamente) de que posso ser mais do que isso.
Aliás... será mesmo que posso?
Aliás... será mesmo que posso?
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Pior é que nem me sinto tão triste e minha depressão só é identificável no arrebatador desejo de dormir e a falta de apetite.. que logicamente provocam um certo desânimo. Por identificar as causas do mal estar, seja o psicológico de meus dilemas de fim de faculdade, fim de namoro e fim de dinheiro e o somático do meu sono e fome desregrados, parece tudo falso... ou ridículo. Culpa de minha veia trágica que me impele a reconhecer apenas como mal legítimo aquele que cai dos céus e se abate sobre nós sem justificativa: nada que se coadune com a minha experiência de vida, eu já não sou mais assim. Problema é depois resolver não fazer nada (afinal, não há questão real, suficientemente trágica, para merecer solução) e tudo fica igual... precisamente por saber o que tem de ser feito. Faz sentido? Nem deveria! Isso aqui é só um exercício, rascunhos de sentimentos... O original você e eu também, caro leitor, encontraremos na vida (por aí).
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