As pessoas gostam de opinar sobre as outras, seja como paliativo para acalmar a curiosidade em desvendar mistérios alheios ou simplesmente porque não conseguimos ficar calados. Não julgo aqui essa atitude, afinal é espelhado no outro que nos encontramos e definimos.
Ao longo da vida fui acumulando alguns reflexos que agora compartilho com vocês por nenhum motivo aparente. Existe sim um motivo, o mesmo que me leva a escrever desde o início do blog: fazer das palavras, analgésicos. E sobre a dor vem o primeiro de meus reflexos.
Minha mãe disse uma vez que possuo alta tolerância a dor...
Não poderia estar mais enganada. Incontáveis as vezes em que fujo para evitar o conflito, sair ileso. A dor física talvez me incomode menos. Não raras as vezes em que me imaginei sendo torturado pensando até onde aguentaria. Cheguei a conclusão de que a dor não me incomodaria tanto, somente o medo, se bem usado, me dobraria.
E quanto medo guardo. Medo de ficar sozinho, de errar, de ser corrigido ou até de barata mesmo. E a dor emocional não suporto, por isso escrevo. Mais saudável do que beber até desmaiar, fumar ou correr até que as pernas fiquem dormentes.
Os dois últimos costumam ser mais efetivos. Na ausência da bronquite que já tanto me tirou o fôlego deixando minha vida na simplicidade de apenas lutar para respirar, crio minha própria falta de ar, minha tosse, o suor frio, as unhas roxas.
O digitar apressado de palavras que pouco terão sentido nos segundos após sua escrita me faz segurar a respiração e temer pela coesão do texto. O preciosismo de acertar me mantem na onda e por um momento esqueço de tudo. Não quero ter de pensar nela. Ou até quero, mas nos meus termos, nas minhas linhas, em minha casa.
Meus amigos acham que sou inteligente...
Já foi o tempo da escola onde esta característica estava mais em evidência, mas ainda me dizem que escrevo bem, parte do mito se manteve. A esperteza deveria estar em não ter tantas ideias tortas, não em articulá-las com habilidade. Visão de mundo perturbada que possuo.
Sou romântico, isso é incontestável, mas ainda assim pessimista. Espero o melhor sabendo do pior. Vejo filmes os quais já havia visto incontáveis vezes e, mesmo sabendo do final, torço para os personagens não dispararem aquela frase que os meterá em alguma encrenca aburda, ou mesmo um final trágico. Parece algo inteligente para você?
A primeira vista pensei que não gostasse de assistir filmes repetidos pelo meu anseio por novidades e memória acima da média, mas é apenas o mencionado medo. Não quero minha vida refletida, um infinito esperar pelo final pouco satisfatório, um repetir de falas, falhas e erros.
Colegas e conhecidos reclamam que falo pouco...
Acho que pouco gostariam se eu dissesse tudo o que penso. É interessante ler essas linhas. Basta que se feche a janela e pronto: você deixa de ter de lidar com esses sentimento. Já se personifico o personagem poucos teriam o tato ou a vontade para lidar com alguém tão pesado, triste e repetitivo. Só faltou um "eu" por eu mesmo.
Devo ser o maior dos hipócritas...
Apesar de desmentir cada um dos reflexos no meu agir incorporo cada descrição com orgulho. Considero-me sim resistente a dor, para cair com heroismo; Considero-me sim inteligente, tenho de ser especial por algum motivo, o gênio atormentado; De fato falo pouco, queria falar mais, ser espontâneo, guardar tanto faz um mal danado.
Este sou eu.
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