E precisamente com essa frase que pretendo começar a postagem, isso mesmo, e não venham com cara de espanto, pois sabem muito bem do que estou falando. Aliás, não é exatamente "daquilo" que estou falando, mas da lógica do contato sem a necessidade do elemento sexual.
Desde já admito que a reflexão não partiu tão somente de mim, justamente por isso começo com uma citação e não uma frase própria, veio em parte de um programa muito interessante da Tv Cultura: Café Filosófico. Dentre os diversos assuntos já vistos, este que ilustra o texto de hoje.
Comentando sobre o alcance do corpo humano, uma filósofa e uma coreógrafa (Viviane Mosé e Dani Lima respectivamente) chegaram no debate sobre o contato e eis que a acadêmica dispara a frase que nomeia a reflexão que agora você lê.
"Não há nada mais erótico do que um elevador"
Ao se explicar em meio a risadas maliciosas da platéia, Viviane Mosé fala sobre o quão intensa é a atmosfera dentro do elevador. Duas pessoas, muitas vezes desconhecidas, na intimidade do espaço mínimo confinadas pelo silêncio ao longo de duros segundos.
E justo por quebrar o silêncio, quebrar a sintonia (quase como se os corpos fossem se atracar a qualquer momento, não necessariamente sexualmente) que se inicia aquele papo trivial.
- Bonito dia não é mesmo?
Achei isso de uma sabedoria ímpar, fazia um total sentido! A explicação desbotada e tola de mera sociabilidade inerente ao ser humano e desejo de aprovação deu lugar a um sentimento de intimidade já construtor de conexões muito antes do disparo de qualquer palavra.
O embaraço então não seria o desejo de aprovação, mas, muito pelo contrário, o repúdio a essa conexão que já vai se formando sem qualquer consentimento. Incrível! Um pouco forçado, eu admito, mas é algo para se pensar.
Dani Lima ainda comentou sobre uma ponte aérea em que conheceu um homem com o qual conversou intimamente sem guardar qualquer contato posterior. Não sabia dizer o nome do sujeito e ainda assim falava com convicção de houvera um contato genuino entre os dois.
Muito ainda se poderia extrair do programa e munido de certa humildade admito não poder ir muito mais longe do que isso por hora. Se possível procurem informações sobre as duas palestrantes pela internet.
O curioso disso tudo é que eu estava justamente refletindo sobre o quanto acho a dança, como arte, algo totalmente inexpressivo. Vejo coreografias avaliadas como belíssimas e emocionantes e acho tudo um saco e um exagero. A sutileza das palavras me atrai muito mais.
Era madrugada de segunda para terça e zapeando fui parar na Tv Cultura. No jornal, um anúncio sobre o lançamento de uma revista sobre dança e música (daí a reflexão). Acabado o jornal começa o Café Filosófico e eis que duas pessoas sábias foram levantando ideias valiosíssimas com base justamente na dança.
Até Nietszche entrou na dança, com o perdão do trocadilho, dele teria vindo uma ideia muito peculiar da dança com palavras ("dançar com a caneta", creio ter sido a expressão). Mais uma das artimanhas desse rank que ele faz dos filosofos. "Estes são mais capazes, aqueles não". Interessante que para estar entre os "espíritos livres" teria de dançar agora.
Vi então que, apesar de meu corpo ser surdo e mudo na expressão pela dança, existia algo ali além da excentricidade dos coreógrafos e aquela pompa toda. Para encerrar, evite elevadores.. ou mesmo se permita ocasionalmente esse contato, algo de bom pode sair da experiência.
0 comentários:
Postar um comentário