Dúvidas dúvidas, por que tê-las? O questionamento na escrita chegou ao seu limite: hoje escrevo por não querer escrever. Não tenho ideias, não tenho palavras, não tenho o tato e a sensibilidade para converter as ideias ausentes em palavras ligadas por algum nexo.
A vida me trouxe até aqui, até essa mal-cheirosa madrugada. O ar se encontra empesteado de lembranças, embora eu não possa vê-las, agora. Sinto ter perdido algo, só não sei o que, e esse algo volta para me assombrar. O contraste dos vestígios mistériosos com a rotina da nova vida denunciam: sou um perdedor.
Não pela gíria popular com conotação negativa, mas pelo sentido mais literal da palavra, o de alguém que perde as coisas, que se solta delas. "E não somos todos perdedores?" -pode o cínico perguntar e eu digo "Pois que sim, pois que sim, mas poucos o fazem como eu".
A prática leva à perfeição, é como diz o ditado. Como o pescador ecológico que se permite ir atrás das feras mais raras por se comprometer a soltá-las em seguida, fiz o mesmo com pessoas, coisas e sentimentos. Fui atrás daquilo que não me é de direito e nunca vai me pertencer. Só vou atrás daquilo que eu puder perder na sequência.
Nada fica nessa renúncia de pertences, somente a memória da caçada e do momento em que obtive o prêmio antes de largá-lo. Aquilo que perece na estante de ganhos, eu renuncio, não por sensatez, mas por simplesmente ser um perdedor. O eterno não se perde, apodrece.
De podre já basta a minha atitude e meu humor. Como destrato aqueles que me amam! Jogo tanto a culpa na tristeza, mas estar aqui é quase escolha, tenho de assumir responsabilidade por meus erros. Àqueles que me surportam, meus agradecimentos.
Devia destratar a quem sumiu de vista e pouco se importa com o que me tornei, mas se revoltar contra o pai ausente seria muito vulgar, até para mim, o mais vulgar dos filósofos de blog. Engaveto esse sentimento com meu passado, ambos não tem sentido.
Gostaria de escrever mais um pouco, o "mais um pouco" que me falta, mas se o tivesse, não haveria o conflito necessário para criar palavras-problema. Meu fim como escritor, portanto. Mais um desejo sem sentido, mais um dia sem sentido, mais um dia sem você
Você, que, por mais que eu oculte, é para quem eu endereço a maioria de meus pensamentos, escritos ou apenas pensados como os pensamentos devem ser. Não preciso lembrar a toda hora... afinal, como disse Shakespeare:
Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te.
Sigo amando-a como naquele dia de tempos atrás, embora não saiba, embora não ligue... acho que nem eu ligo mais. Virou tão banal, quando a dor é rotina logo vem a morfina (dá até ditado).
1 comentários:
É... tem dia que a gente escreve o que sai, o que entra... o que fica pelo ar... é uma forma de "auto-tradução". Será que isso existe? Risos... Continue treinando... Sucesso!
Paz e bem!
Aline.
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