Questiono novamente meus caminhos, caminhos estes ainda não revelados, ocultos na sombra do futuro, meras ideias que flutuam e aguardam pela cristalização em poesia. Antes de dizer o que digo, antes de pensar o que penso, antes do antes e ainda assim depois, pergunto porquê. Será que devo? Será que vale o exagero?
Chamar o amor de dor, chamar a angustia de sofrimento, elaborar metáforas dignas da era trágica dos gregos, isso vale? Pois que por mais que se diga que um coração partido é incomodo, duvido que a sensação sequer chegue perto da danação de Prometeu amarrado ao Cáucaso para ter seu figado dilacerado e regenarado repetidas vezes.
Mas o romântico é desbocado, não vai hesitar em traçar paralelos até mesmo com este caso extremo. Arriscaria dizer que seu amor lhe dilacera o coração e só este se regenerando por uma cruel ironia dos deuses para se entender porque ainda vive. Por que indago com tanta firmeza? Ora, também sou desses exagerados que profanam a razão.
Comparações não se justificam, dor é dor, amor é amor. Figuras de linguagem e metáforas são todas enganosas e exageradas. Poder-se-ia ainda lembrar que a palavra, o língua, já é metáfora. Estamos enganados mesmo antes de abrir a boca.
Se for para buscar a verdade absoluta, o correto seria nem pensar em amor, para começar. Só que não existe tal coisa, o mínimo que se pode pedir é uma pausa nos exageros. Hoje sofri, mas por amor. Foi angustia sentimental e apenas isso... apenas isso?
Parece frieza excessiva, mas não custa experimentar, vou dizer a verdade, se não a absoluta ao menos uma mais despida de enganos: hoje sofri, mas por besteira. Foi angustia sentimental e apenas isso. O coração partido, de rubro, pouco tem, é translúcido, singelo, patético. Não tenho do que reclamar, destinos piores acometem outros homens.
Lágrimas de angústia, pensamentos de tédio, palavras de escárnio, sinceridade brutal e romantismo cansado: eis o que "É" despido de exageros.
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