Essa semana, eu fui em uma entrevista de estágio. Só que não era qualquer estágio, era "O" estágio, aquele para ter orgulho de chamar de primeiro emprego (aquele que você tem quase certeza que não irá reclamar dos horários, pagamento ou chefe péla-saco).
A vontade foi tamanha que eu cortei o cabelo. O.k., pode não parecer algo extraordinário, mas eu havia deixado crescer por 2 anos sem tocar em tesoura, desde o trote da faculdade! E ainda mais: fui de social completo nesse calor insuportável.
Andando na rua com o terno de formatura do Ensino Médio, e com um corte de cabelo que me fazia perder pelo menos uns dois anos, parecia que eu estava de volta ao colégio. Se não isso, a impressão era de que eu caminhava para uma festa à fantasia que foi cancelada sem que me avisassem. Parecia totalmente inadequado e estranho.
Tentei apagar esses pensamentos no vagão do metrô para demonstrar o máximo de confiança possível durante a entrevista. Obtive certo êxito, fiz a redação e os teste com tranquilidade e respondi as perguntas do entrevistador sem grande hesitação.
Foi um desempenho bastante satisfatório, mas ainda assim eu me sentia inseguro com a situação. No elevador eu repassava a entrevista na cabeça procurando falhas possíveis até que algo me distraiu. Um senhor começou a falar comigo:
- Tenho que estar em Santo Amaro para ir ao banco em 50 - ele pega o celular e checa o horário - 48 minutos!
A entrevista era no quarto andar, ele ia para o subsolo e eu para o térreo. Em razão do trageto curto a conversa foi abreviada quando o elevador chegou em minha parada
- Bom serviço! - disse ele enquanto eu saía do elevador.
Andei pelo hall de entrada do prédio me sentindo surpreendemente leve. Achei fantástico que ele me tratasse como igual, ainda que de um forma tão descompromissada. As poucas palavras de um desconhecido soltaram os grãos de areia presos na ampulheta do tempo: eu me tornara um homem. Com vinte anos nas costas, já era hora...
E como homem minha primeira atitude foi sair do prédio, respirar fundo e... ligar para minha mãe e contar sobre a entrevista. É interessante, da última vez que fui a uma entrevista, e até mesmo quando eu passei direto no primeiro semestre da faculdade, tive o mesmo impulso de ligar. Mal falo com minha mãe, mas isso continua acontecendo.
Um sinal de que certas coisas nunca mudam, ligaria até para meu pai se tivesse o telefone na memória (comentaria também sobre o corte de cabelo para ele que, todo certinho com seu cabelo repartido na risca, fazia careta para meus cachinhos rebeldes).
Não perdi a ternura para com meus pais, quero dividir a alegria com aqueles que amo; não perdi a capacidade de sonhar e me deixar levar pelas pequenas aventuras da vida, tudo por causa de duas palavras de um estranho no elevador!
E para todos que tiverem planos à cumprir pela frente, sejam seus objetivos quais forem:
Bom serviço!
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