Se a alma do escritor é como um instrumento de cordas que necessita tensão para ser sonoro, também necessita uma afinação. O intrumentista tem os dedos calejados, mas o músico, ah o músico! Esse tem os ouvidos calejados e saberia por si só atingir as notas precisas da afinação específica. Não chego a isso, preciso de certos acessórios.
Chamo de Afinador da Alma todos aqueles elementos que conduzem à escrita. Na calmaria, onde é raro que haja qualquer tensão ou movimento para tanger as cordas da inspiração, é preciso ser pontual quando aparece uma oportunidade, ter o afinador à mão.
Um processo apressado, no entanto, não poderia deixar de se mostrar superficial. Não há tempo de procurar a sinceridade absoluta, ou a música perfeita para servir de condução a melodia, toco sozinho sem referencial sabendo que pode ser a última vez.
Sim, tenho medo que a calmaria seja tanta que me faça desistir de tudo em dado momento. Escrever é aquilo que me dá sentido, intitular-me escritor (ainda que "Escritor em Treinamento") é uma das poucas alegrias que me restaram, é o que me dá orgulho.
Por isso não poupo recursos, se o que hoje funciona é uma taça de vinho barato, que eu tome uma taça dessa infâmia! O tédio, o amor, a tristeza, nada disso! O que hoje me impele são as taças de vinho barato, aventuras dosadas que estão ao meu alcanse.
Não tenho estatura para ser amado pela musa, nem força para lidar com o desamor; não tenho estatura para enxergar novos horizontes, nem força para alcançar os atuais. O que tenho são taças de vinho barato e uma garrafa que já vai se esvaziando a cada parágrafo.
Estou triste... apaixonado! Estou é ficando bêbado, mas tanto faz, estou escrevendo.
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