Compromisso

Meu estilo solto e leviano de levar a vida mascara uma disciplina terrível no cumprimento de um trato com o diabo. Como neurótico, vivo sob uma rotina, seja ela de pensamentos ou ações mais concretas. Esses fantasmas me acompanham em cada cochilo e cada fuga das obrigações superficiais. Pode parecer que me isolo e fujo de todo, mas não, mantenho o compromisso.

Hoje pago por todas as escolhas que fiz durante minha tragetória curta. O ateísmo desencadeou um medo da morte terrível e uma desesperança com tudo e todos que esmaga o espírito (aliás, palavra peculiar para um suposto ateu); o ceticismo hipócrita e romântico me faz esperar pelo impossível (antes me fizesse lutar por ele, a espera é arrasadora e triste).

Comprometi-me a ser eu, pago a escolha de ser em cada lágrima seca, invisível ao olhar de qualquer um, que insisto em verter em um choro calado a cada vez que te vejo. E a sede que sinto? E a vontade, e o gosto que sinto e não sei de que? E a memória que se mostrou um simples sonhar e me acorda na madrugada? São seus beijos, são seus abraços.

É como diz a música: "Faça-me sofrer que eu sofrerei mais uma vez". Serei eu, serei assim como sou e devo ser. Sigo esperando o impossível sem crer, sigo sonhando acordado, sigo sofrendo, sigo amando, sigo comprometido a ser eu... e não nós, nunca nós dois.