As manhãs tem se mostrado cada vez mais duras para essa criatura de hábitos noturnos que vos fala. Ter de acordar cedo e ir ao CFC me encaminhou para um novo fuso horário, me estrangeirizou de mim mesmo em meus hábitos e pensamentos.
A amargura do mal humor matutino se espalha como veneno pelo corpo provocando dores e indisposição. Os olhos nunca se ajustam à luz do sol, as pernas não se adaptam a subida ingrime e a boca já não aceita nem o familiar gosto do café.
Começar o dia em completo jejum dá novos graus à angustia rotineira e torna o período matutino insuportável. Por que então eu, muitas vezes, opto por ele? Por que o pesamento de que talvez não exista gosto que me satisfaça o paladar?
Sigo olhando por esse ponto de vista, mesmo passado o mal humor e o sono. Privo-me de viver sensações por não serem elas qualificadas para minhas expectativas. Romantizo até o gosto do café que já não basta e prefiro o jejum atordoante. A troco de que? Absolutamente nada, nem sequer esperanças concretas de banquetes futuros eu sustento.
Instituir a solidão e o silêncio na balburdia das relações mundanas na procura de um amor superior é até racional, um objetivo foi firmado; recusar os deleites do mundo sensível sem saber o que procurar ou mesmo sem crenças de que essa recusa contribua de qualquer forma para a busca, isso já é loucura.
Os filósofos, desde a antiguidade, quebram a cabeça na elaboração teórica de um mundo supra-sensível (começando pelo fato de que percebe-lo, já na elaboração, envolve o mundo sensível); os crédulos ignorantes vendem a alma à qualquer "metafísica para pobres"; eu, como cético hesitante e obtuso, não sei para que conclusões pender.
Passo a maior parte com medo e nem sei do que. Vivi tanto na espera de algo arrebatador nos dias iguais de tédio que agora temo o que possa vir. Acreditar na mudança foi tão fatal quanto acreditar na rotina.
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