Já tanto falei da dor que é não se soltar de si, de estar sempre preso à mesmíce de Ser. As mesmas cores enjoam a vista e os mesmos sabores tornam a inanição um destino aceitável, é um saco, um tédio. Que surpresa a minha foi quando descobri que mal sabia quem era. Ao que eu supunha, sofria de exaustão pelos consecutivos encontros internos, por que isso, então?
Encontrar e saber, aprender, talvez sejam conceitos distintos ou ainda seja uma questão de ponto de vista. Nos vemos sempre através de reflexos que distorcem a imagem de alguma forma, já a visão à distorce (supondo que exista uma imagem pura a ser sempre vulgarizada por nossas impereições). Seja como for, mal sei quem sou.
Uma vez fumando um cigarro, me peguei indagando sobre o porquê daquilo. Óbvio que pelo vício, por mais que eu me enobreça à cada gesto (como mãe que aplaude o arroto da criança), não se pode negar o básico. Mas além disso havia uma felicitação pelo gesto e suas significações. Ora, fumo como boêmio, como escritor. Existe uma razão!
A fumaça do cigarro formaria então mais imagens do que eu percebia, já ela definia parte de mim. Mesmo o vício por si já me definia como fraco sucetível ao mundano ou como vítima de dores sanadas apenas por auxílios malditos. Alegrou-me encontrar respostas, fui em frente e lembrei de outras caracteríscas minhas.
Claro que, ainda preso à ideia nova supostamente dotada de uma arrebatável genialidade, continuei a me definir pelo inusitado. Sou meus pulmões, a bronquite e o cigarro, não corro mais que cem metros atrás do que desejo sem ofegar; sou meu coração, os amores imperfeitos e tolos de um coração que bate sem ritmo ou, mais ainda:
Sou a própria tolice... por voltar a me definir por diagnósticos.
Não é isso! Não é como o meu corpo responde errado aos estímulos do mundo o que me define, de repente me pareceu pouco. Meu coração, meu pulmão, minha tolice, são coisas minhas, extensões ou meras partes, mas não dizem aquilo que sou.
A tolíce me impele a buscar a essência, a alma; o coração me diz para procurar o amor... e o pulmão diz que devo fazer uma pequena pausa. Meros ajudantes em uma busca maior, portanto. Mencionei meus dotes como escritor (e reafirmo tecendo linhas e linhas sobre nada), o caminho pode estar aí: a definição por aquilo que faço.
Escritor, historiador, professor... essa é a tríade que matiza meu pôr-do-sol. Mas novamente me parece pouco, facilmente me distraio dessas metas. Não só não é exatamente aquilo que faço (desconsiderando os desvios e descaminhos) como também seria ignorar a vontade. Mais do que ser o que fazemos, fazemos em razão daquilo que somos.
Sobra me definir por como faço, como executo. Quando a vontade se denuncia. O amor à certos exercícos, a má vontade ou até a negação em fazer... o não-fazer. Com isso já se enriquece uma visão limitada, mas ainda não se dá uma resposta que me acalme...
Afinal, ser alguém é ser único? Aglutinando um sem número de características, todas dando vazão a tantos outros pormenores, parece que o que pretendo é me definir pelo número, pela probabilidade de ser único. E não é isso, mais do que nos sentir únicos o que importa é nos sentir unos, separados dos outros, mesmo na igualdade.
Faz bem pensar que o que nos separa do ambiente, o que nos impede ser diluídos no universo infinito ou dissolvidos no mar de rostos é mais do que uma camada de pele que seguraria nosso ser junto aos orgãos internos. Faz bem saber que se tem algo para se proteger...
Também nos definem os outros, por que não? As partes de nós que deixamos por aí e as partes dos outros que agregamos a nós, antes de nos confudir ainda mais sobre o que é o outro e o que é você, nos aquecem o coração. É bom se conectar, amar, agregar.
Somos o que nos faz bem e nos faz mal...
Queremos os outros, queremos a nós queridos pelo outro. Queremos e somos, novamente a vontade a definir. Também odiamos, refletimos, ignoramos... uma teia de relações e sentimentos possíveis dizendo aquilo que importa.
E com essa pensamento, já me perco. Parece que quanto mais penso, mais longe fico de uma resposta. Ou, por tantas respostas que me inundam, perde o sentido indagar. Muitas perguntas, muitas respostas... e pouca paz-de-espírito.
Devo ser o próprio caos.
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