São duas as grandes categorias do meu pensamento, na confecção de textos: a reflexão e o devaneio. Os primeiros são mais racionais e possuem um tema específico bem delimitado, os outros são mais fugidos e tratam de objetos incertos que se multiplicam e desaparecem na fluência das ideias. Tem-se então o objeto e a ação; o pensar e o sentir.
Vi um filme outro dia que catalizou uma reflexão relevante, já me veio a ideia na cabeça de o que e como escrever, poucos minutos depois. Guardei-a para, assim que eu julgasse oportuno, postar aqui mais um de meus textos sob a categoria "reflexão".
Claro que, a vida tem seus caprichos. Quis ela, ou quis eu em algum nível de consciência, que não fosse feito dessa forma. A ideia pareceu tola, por mais que pertinente, e imperfeita para meus padrões. Deve ser preguiça, mais do que qualquer coisa. Esse tipo de texto costuma ser mais demorado para escrever do que esse, por exemplo, em que escrevo exatamente aquilo que penso. Mera transcrição do pensamento.
Quis pensar, mas me permiti apenas sentir. Se naquele momento veio determinada ideia, é àquele momento restrita. Tem hora que é foda! Parece que só sai um texto na sinceridade absoluta com o que se esta sentindo enquanto se escreve.
E como é difícil capturar um sentimento...
Há dias em que acordo com a impressão de que nunca mais vou escrever, sofrer um bloqueio daqueles e virar mais um qualquer. Esse é meu último refúgio, não seria ninguém se isso me fosse tirado. E o que sinto, agora além de medo?
Como é difícil responder certas perguntas...
"Ninguém quer curar o desejo" -foi a frase que trouxe inspiração para a reflexão enterrada. O filme (Minha Cama de Zinco) falava de alcoolismo e sua cura, de como é impossível ao se pensar o princípio apontado na frase. Muito bom, gostei, sem dúvida. Mas o que sobrou do sentimento em mim, desde aquela madrugada à frente da tv?
Sobrou pouco. No momento, me convenci de que vivia a vida em vícios e de que as mudanças que tenho sofrido nesses últimos meses, e como me perco nelas, se tratariam de uma reabilitação desses vícios. Mais do que crescer, mais do que mudar, eu estaria me desintoxicando. Era só mais uma racionalização.
O tempo é bom juiz para certas questões. Daqui, do futuro, avalio mais essa teoria metamofórica de vida que não se mostrou apta à avaliar mais que um momento. As angústas de hoje não são muito diferentes das angústias da noite do filme e, mesmo assim, a ideia já está gasta. Tenho de parar de confundir o que é criativo com pertinente.
Sou viciado em sonhar, mesmo quando abro os olhos, mesmo quando julgo estar sendo racional e frio, é só mais um devaneio. E me impressiono tão fácil! Ainda ouso confundir com inspiração o que é apenas ansiedade para com uma ideia qualquer, impressionante!
É uma tietagem criativa. Não me contento em repetir aquilo que me chamou a atenção, tenho essa ânsia de debater, se não com o artistas, com meus amigos. Ajo como se tudo fosse feito em função da minha crítica e adaptável aos moldes de minha vida. Esse é meu maior devaneio. Mas não sei se chega a ser um problema...
Eu que me acovardo tanto diante do mundo, talvez tenha encontrado um meio de manifestar meu pertencimento à ele. Através dessas tentativas incessantes de diálogo com a arte, dessa inspiração disfarçada de egocentrismo, eu me tornei humano.
0 comentários:
Postar um comentário