Sou um sujeito calmo. Talvez mais preguiçoso do que calmo, afinal, meus pensamentos estão sempre à todo vapor apesar do corpo calado. Mas, no geral, é possível dizer que sou calmo. A própria preguiça chega a ser uma habilidade da calma, uma qualidade quase meditativa de se abster de agir, mesmo diante de sérios problemas.
No entanto, o que tenho feito recentemente é me abster de mim mesmo. Por mais que eu tente me definir, procurar reflexos e não perder o referencial com uma identidade ou essência que eu acreditava ser inerente à todos. Parece que durante a vida os átomos que compõe nosso corpo trocam completamente pelo menos três vezes. Loucura, não é?
Apesar de ser uma curiosidade despetenciosa, daquelas usadas para animar conversas à mesa durante enfadonhos jantares em família, ela diz muito do meu dilema atual. Mudamos sim: mas à ponto de não sermos quem somos? E, se mudamos tanto, já não seria mudança, pois deixando de ser quem éramos não se pode dizer que o sujeito "A" mudou.
Seria então, impossível mudar, pois se o "A" muda, ele vira "B", não dá para mudar sem deixar de ser...
Lógicas confusas à parte, o ponto é que o momento é de redefinições. Mesmo dizer que sou calmo já parece impreciso. Seja pelas crises de pânico na madrugada em que o coração até dispara ou por esse novo fenômeno: o estresse.
O estreitamento de prazos, os trabalhos de última hora, o estágio que não chega, a contagem e recontagem do dinheiro restante na conta... os planos. Antes eu me limitava à uma angústia rasa e me escondia abortando metade dos processos. Agora vou atrás de quase tudo sem deixar, é claro, de quase criar uma úlcera.
Vem-me um cansaço não sei do que, só estudo, não trabalho. Resolvi boa parte das pendências e o mal-estar prevalece. Fica esse estresse ganhando espaço por qualquer draminha. Até decidir os planos do fim de semana fica difícil.
A calmaria passou, mas nem por isso criou-se uma tempestade. Tudo isso não tem um porquê, isso se pensando que sou quem sou (um sujeito calmo). Será que mudei tanto? Será que ao pedir que a angústia fosse embora ela se limitou a alojar-se dentro de outra pessoa (mesmo que essa outra pessoa tenha vindo a ser um "novo eu")?
O próprio rumo desse post é denotativo desse meu novo exagero: o estresse. A racionalização é tão pesarosa quanto a leitura deve estar sendo (se você procura detectar algum sentido em tudo isso). Queria concluir com um pensamento feliz, mas está difícil.
Reitero o que já disse algumas vezes por aqui, era mais fácil quando minha única preocupação era amá-la. Amores platônicos são muito mais disciplinados que o amor próprio. Que acaba sendo o tom de minhas preocupações, aprender a amar esse novo eu.
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