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19 de junho de 2010

Ao mestre,

- carta fictícia -

Professor, o que dizer, agora de igual para igual, à quem tanto me ensinou? Ou mesmo, por que tentar? Questionamentos à parte, acho que vale o exercício, não me contive, tinha de lhe escrever e fazer essa última lição de casa: uma carta ao mestre.

Meu filho mais novo está naquela idade: chegou o momento de escolher sua escola. Tarefa difícil, ainda mais se ele seguir os passos do pai e ficar na mesma escola até que se forme no terceiro colegial. Escolherei seus melhores amigos, seus melhores anos, puxa vida! E, é claro, aqueles em quem, além de mim, irá se espelhar.

Tendo a escolher a escola de meu filho mais velho. É mais conveniente e, se foi a escolha certa uma vez, teria de ser mais essa vez. Mas foi realmente a escolha certa? - passei a me perguntar, nesses dias. O que acabou me fazendo repensar o que eu considerava "a escola certa" e lembrar da minha própria experiência, meus dias de estudante.

Esse exercício me fez lembrar do que eu aprendi com o senhor, até então nunca tinha pensado no assunto, sempre fui um aluno displicente, fazia pouca lição de casa, conversava em sala... espero que não se lembre tão bem quanto eu desses detalhes.

A primeira coisa que me veio foi o que eu passei a chamar de "cara-de-trabalho". Quando criança, a gente não percebe, com exceção de quem tem pais professores, que quem está ali está trabalhando. São pessoas: saem de casa todas as manhãs, trocam a oportunidade de estar com suas familias e amigos pelo dinheirinho.

E lá vinha o senhor, todos os dias, estampando na cara o sacrifício. A maioria dos professores usavam a cara-de-trabalho do início ao fim do dia, o senhor era o único que a tirava com o passar do tempo nos fornecendo o comparação, para vermos que não era só uma "cara-de-professor". Na última aula, estava mais disposto que todos nós.

Fiz a brincadeira de identificar qual cara as pessoas no trem e no ônibus, a caminho e na volta do trabalho, usavam. Vi que a imensa maioria tinha aqueeela cara-de-trabalho, talvez até mais evidente que a que o senhor nos ensinou. E o desgaste do dia, somando-se a "alegria" que é nosso transporte público, só fazia piorar a feição dos trabalhadores.

A brincadeira perdeu a graça quando fui me olhar no espelho antes de escovar os dentes e sair para o trabalho, mas olhar de verdade. Quis ver os efeitos do tempo, aquele momento de vaidade ou até crise em que contamos os cabelos brancos. E, para o meu espanto, lá estava a cara-de-trabalho... e com ela continuei até o fim do dia.

Demorou para cair a ficha, mas demorou mesmo! Como eu disse, sempre fui displicente. O senhor nos mostrou que era possível fazer aquilo que se gosta, encontrar-se e ganhar energia em seu ofício, mas lá estava eu me matando de trabalhar.

Nunca fui muito inteligente, por mais que o senhor me encorajasse. Não adiantou me colocar na fila da frente. Mas, olhando para trás, vejo o quanto aprecio esse seu esforço. O senhor nunca me negou o que oferecia a todos os alunos, mesmo que eu relutasse tanto. À todos o senhor permitia a oportunidade de pensar.

Não sei se chegaria às conclusões que chego agora sem o senhor, eu, homem simples, sem qualquer faculdade, que mal tenho tempo para pensar, só trabalho e tento fazer cada segundo de reflexão valer a pena (muitos desses, nessa carta).

Meu filho mais velho é inteligente, eu sei que é! O garoto pega as coisas com uma facilidade... mas parece que não vai, sabe? Nos estudos sociais, ele ouviu falar de ditadura, um dia desses, e não me fez uma pergunta sequer de como eram aqueles dias! E o senhor bem sabe o que foi aquilo, todos tem uma desabafo para contar...

Quero que ele entenda que opressão e desigualdade não são só palavras! O senhor me ensinou, ensinou a todos meus colegas, cuidadosamente falou de Brasil ao tratar da Revolução Francesa, enriqueceu nossa visão de mundo no processo!

E fica essa luta entre minha opinião, a de quem não entende nada de educação senão pelas próprias experiências, e as mil pesquisas de revista que dizem que a escola do meu mais velho é a melhor da região, que tem o melhor método para passar no vestibular e etc. Quero o melhor para meus filhos, mas o que é o melhor?

No final das contas, fiz pouco uso da sensibilidade para os problemas que o senhor me deu, ou até fiz algum uso, mas acabei com essa cara-de-trabalho. Talvez valha a pena esse frieza toda, talvez na faculdade ele arrume um tempo para pensar, talvez...

Com tantas dúvidas, sobra torcer para que meu filho encontre em seu caminho alguém tão digno quanto o senhor de usar o título de mestre (hoje, não à toa, é raro que se chame os professores dessa maneira) e agradecer por essa última lição que eu custei, mas aprendi.

Obrigado.

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