O delírio febril deste escritor, que tanto se preocupa e adoece por se julgar repetitivo, é real. Não preciso ser redundante para sê-lo, e ainda que talvez até o seja por minhas neuroses, a questão é que é mais uma dessas verdades inescapáveis: são e serão sempre as mesmas palavras. O que muda é a ordem ou talvez o assunto principal.
Nossa língua é maravilhosa (argh... odeio inglês, língua preguiçosa!), mas é uma prisão. Toda língua acaba sendo. Por mais extenso que seja o seu vocabulário, você vai eleger as suas favoritas e repeti-las à exaustão. E é assim tem que ser! Como escritor, eu tenho o dever de identificar, nessa eleição, a essência do homem, do ser-escritor.
Se eu vou aceitar essa vida de quem se define pela escrita, e é o caso (não teve jeito! Tentei parar, mas o escritor em mim tomou conta das outras partes), não posso ser hipócrita: um homem é o que ele escreve. Ainda mais eu que (d)escrevo aquilo que penso.
A comunicação direta das palavras-pensamento, a eleição das palavras favoritas em sua raiz (amostragem mais pura do ser-escritor, livre do que generaliza e aprisiona o espírito), ou até a excreção das mesmas (à depender do momento, "amostra" ganha aquele sentido clínico que remete a urina e fezes) já denuncia: são as mesmas palavras!
Sou, e você que é provavelmente blogueiro e pretenso escritor, maioria de quem se aventura nas páginas da internet, também é esse padrão: somos a nossa maior neurose, a repetição das palavras. Mas será só isso? Chega até a ser covardia, ou estupidez, por um conceito frágil que acabei de montar para ser testado... um "não" sai muito fácil.
Mas eu acredito que não seja mesmo! Sem deixar de pensar que tudo isso faça sentido - do contrário, não escreveria - então, tudo bem. Com certeza devem existir trabalhos e trabalhos a respeito de como a linguagem conduz o pensamento, o meu pensador favorito é Nietzsche que vê em cada língua um ritmo (afinal, o escritor dança com as palavras).
Há quem pense melhor sobre o tema, serei humilde desta vez, mas a reflexão é válida, ou, mais importante: é sincera. É nisso em que estou pensando / é isso o que eu vou escrever. A vulgaridade, que se impõe tanto em meu estilo, exige essa sinceridade com o momento. Parece que não faz sentido escrever com uma ideia que tenha de ser simulada e tantas outras abandonadas por motivos pífios como: "isso já foi dito".
Mas, voltando ao assunto, o que existe além do padrão? Existe o pensamento em si, o sentimento em si. Como romantico, por exemplo, eu não acredito em cartas de amor: acredito em cartas sobre amor, já que não é possível colocar amor no papel. É rara a transmissão de sentimentos, temos apenas nossas palavras, na maioria das vezes.
Estudando minha neurose-mor, minhas repetições de palavras, você conseguirá captar esse eu-escritor, acredito que nem será tão difícil. Poderá até prever as seguintes, se for muito hábil, mas não terá me entendido por completo se depois de 99% das previsões corretas houver 1% de falha. Se o padrão definisse, não haveria surpresas.
Somos mais que um exercício de análise combinatória, não acredito que Deus exista e já neguei boa parte da minha criação cristã, mas gosto de pensar que cada um de nós é único, como também teriam sido nossos antepassados.
Então, dá para se definir pela capacidade de surpreender? - acabo de me fazer essa pergunta, confesso. Os descaminhos de meu raciocínio surpreendem até à mim (sem trocadilho intencional). Talvez. E digo mais: pela capacidade de evitá-la também!
Varias pessoas dirão a mesma coisa e, em muitas ocasiões, com a mesma entonação e em situações muito similares, concorda? Então, como ser único? O sentimento o será e, se você tirar a sorte grande, encontrará quem te olhe nos olhos e responda com um olhar: "sei exatamente o que sente"
Ai, que dor de cabeça (metafórica e física)! Essa, sem dúvida, foi uma viagem e tanto.
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