A Experiência se Pronuncia!

Falar de amor demanda amor, a escrita sentimental exige o contato com os próprios sentimentos mais do que um esboço do que o outro sente. E tenho me desviado, minhas hipóteses sobre fenômenos internos refletem, nas conclusões, uma grande afinidade com representações exteriores a mim. Sou hiper-sensível à estímulos.

Isso tudo para dizer que assisto muito televisão.

A própria inspiração de se exaltar o que senti e vivi no lugar do que acho que pode ou vai ser veio de um programa televisivo. Vi a chamada de um curta: "O amor segundo {nome do diretor}", seria uma espécie de produção teatral, pelo o que parecia. A primeira imagem do programa era a de um casal se abraçando apaixonadamente.

Pensar em amor não me conduz à essa imagem, ou até conduz, mas em terceiro ou quarto plano, e o autor da produção vem e a coloca logo de cara! Estava tão errado que tive de escrever em resposta. Não há qualquer intenção de diálogo, só escrevo para tentar solucionar esse mal-estar que aquela reprodução errada de amor me trouxe.

Maldito perfeccionismo...

Meu amor é estéril, até a paixão é comportada. O máximo que arrisco em minhas representações sinceras de amor é a dizer que desejo, mas um desejo que se contém, digo que quero ter a amada em meus braços. Já o beijo... é dissonante.

A alma musical reconhece o valor da dissonância na contrução de uma melodia, mas sabe que ela torna o resulado final mais sucetível ao desagrado e consequente fracasso. O beijo acaba com o amor - é isso o que se deve esperar como regra.

Os amantes nunca amam. A experiência me diz que o que torna duas pessoas amantes destrói as palavras - fatalidade para o escritor, perdem-se suas capacidades, nas quais se inclui, fundamentalmente e mais importante aqui, a sua capacidade de amar.

Amar é estar sozinho, nos períodos em que mais amei, estive recolhido em mim mesmo. Se o programa televisivo inspirador fosse feito segundo minha visão, a primeira imagem seria a de alguém mais só do que nunca esteve (como isso seria mostrado ficaria á cargo do pessoal da fotografia). Desolação, angústia, sofrimento: isso é amor.

E, se não for, eu não sei de nada disso. Outra coisa que a experiência mostra é que eu falo constantemente do que não conheço, por vezes porque não conheço quase nada em minha visão de mundo limitada, por outras pela desvalorização de tudo o que é meu - o que eu sei não interessa à ninguém. Pensei que teria algo além disso para dizer.

Estou tão cansado, paro por aqui, a depressão me pegou. Isso passa, costuma passar, mas enquanto isso...