Escrevo ouvindo música, foi a maneira que encontrei de me concentrar. Sou muito distrativo e, por algum motivo, foi adcionando mais um elemento dispersivo que encontrei o meu foco. Talvez não seja tanto um mistério, equilibrar uma balança pode envolver duas estratégias: remover peso da bandeja que pende para baixo ou adcionar à elevada.
Outra verdade é que, quando estou sozinho, tenho medo do escuro. Não expressamente dele, mas do que pode surgir na treva. E o que surge? Nada, sou maduro o suficiente para saber: quando estou sozinho, estou sozinho. Não tive traumas criadores de fobias quando criança, a escuridão só nos traz de volta para nós mesmos, tenho ciência da solidão.
Não seria esse um pensamento ainda mais assustador?
Julgo que sim. Por isso o barulho, por isso os abajures. Durmo com as luzes apagadas e a televisão desligada, mas só porque aprendi que, quando me concentro, posso ouvir as vozes de todos aqueles com os quais tive contato durante o meu dia. Sobre fechar os olhos e visualizar, sonhar acordado mesmo antes de dormir, acho que nem preciso dizer...
Mesmo porque, à ponto de dormir, posso me permitir um momento de insegurança (mesmo que este dure horas em tempos insônes). O problema é apagar as luzes e pausar a música quando estou acordado. Enganei-me chamando a ansiedade e o desassossego que imergiam nesse momentos de tédio, e talvez até fossem no princípio, mas ia além.
O tédio fica mais sério quando você o traz para dentro de si e o meu já tomou conta. Uma amiga, uma vez, me disse: "você é o tédio em pessoa" - quer constatação mais assustadora do que essa? Ok, talvez o fato de o enfereço do blog conter três vezes tédio tenha colaborado no julgamento dela, mas paremos com a lógica! De volta à intuição...
A sentença saiu de uma forma totalmente despretenciosa, quando muito em um tom provocativo para ver como eu reagiria, mas não tinha propriamente a intenção de me julgar. E é por isso que se deve levá-la à sério. Quando as pessoas tentam me entender, geralmente se confundem, mas, quando não se incomodam, me tem como um livro aberto.
Li Nietzsche. Sim, provavelmente só o fiz para poder dizer que eu havia lido, por isso começar dessa forma. Enfim, em determinado ponto de Além do Bem e o Mal, o filósofo alemão chegou em um dos três ou quatro raciocínios que eu consigui guardar do livro (sem necessariamente entender). Falava ele de não se fazer compreendido propositadamente.
Ler aquilo me fez lembrar de meu encontro com a definição de bom comunicador (se não me engano, na escola). Aprendi que, longe de se ter um léxico invejável ou escrever pilhas de livros, se trata de passar o máximo de ideias possíveis com facilidade. É eficiência, simplificação, enfim, o contrário do que meu filósofo favorito pretendia.
Entrei em parafuso, não sabia o que pensar. Acatar com o pensamento nietzschieano me permite permanecer distrativo e inquieto tergiversando em meus textos, como faço agora fugindo completamente de um tema que mal delimitei. Faz sentido e me agrada, deve ser isso, não é? Não preciso responder, só o fato de haver uma incógnita indica um problema.
A distração virou confusão. As luzes acesas a toda intensidade tornam o mero esforço de fechar os olhos por um segundo algo desconfortável, voltar à calma fica cada vez mais difícil: o stress se acumula. E meu barulho só torna a ansiedade ainda maior para os momentos de silêncio quando a playlist acabar... afinal, tem hora que enjoa.
Tive três grandes ideias para textos esses dias, não as desenvolvi por preguiça, é verdade, mas também por não ter a postura necessária para levá-las à escrita. Bolei outro tema, deixei-as de lado e troquei a preguiça por intransigência, o prazer tolo de se quebrar as regras satisfazendo outras interiores (mais conhecidas como neuroses).
E cá estou falando sobre sabe-se lá o que.
Apaguei as luzes, pausei a música e lidei com o que veio no silêncio, no escuro. Sempre achei a meditação uma grande estupidez, ainda acho, mas posso ter encontrado algo similar que se mostrou útil. À todo louco é recomendado um momento de lucidez.
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PS: Que fique exposto o meu espírito crítico a intelectualizante da realidade, ainda que por temas pífios, nada é mais tolo e infrutífero do que falar de si. Que fique essa ideia turva ao me imaginar escrevendo no laptop em um café ou mesmo como um desleixado com olhar louco, pensando alto e alimentando os pombos em um parque.
... e não como um cara de vinte anos assistindo Eclipse no dia da estréia à pedido de uma amiga. Não que eu me envergonhe, tenho meus motivos. É só uma questão de imagem.
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