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1 de julho de 2010

Os Ventos da Madrugada

A solidão desta noite me fez pensar em cigarro. Fumo, tenho este mal hábito, mas por vezes fico grandes períodos sem fazê-lo. Às vezes, porque não quero comprar e gastar meu dinheiro; outras, porque tenho vergonha de pedir de quem tenha; ou até, como é o caso agora, simplesmente porque perde a graça. Só me vem uma vontadezinha fraca.

Não lembro dele pelo vício, mesmo porque este não traz memória, traz desejo. E desejo nunca é no passado, a gente sente e não lembra. Não não! O que me faz lembrar é uma saudade doída de um velho amigo e confidente. Lembro-me de rolá-lo entre meus dedos, confiá-lo meus maiores segredos e entender mais de mim mesmo (por sete, oito minutos).

Comecei empesteando o banheiro, como adolescente que não tem ideia do quanto passa longe de enganar os seus pais. Já possuía meus dezoito anos, comprava o maço com meu dinheiro e mesmo assim fumava "escondido". Gostava da sensação de perigo... e até mesmo de me olhar no espelho fumando.

Obviamente fui confrontado, até eu acho o cheiro desagradável às vezes, confessei o crime, passei a fumar abertamente e... continuei com as escapadas no banheiro. Era um ritual que fazia sentido: tinha o meu momento, assistia de camarote pelo espelho e coletava e pesava as informações obtidas em um banho bem quente.

Em determinado momento, meu amigo passou a se sentir enclausurado, ao menos é o que supus, nunca teve voz outra que não a minha, mas eu sabia: ele andava diferente. Não me falava tão diretamente como antes. Ele deve ter percebido que meu novo ritual meditativo já chegara ao seu estágio final: o comportamento irritante... ou neurose.

Levei-o para fora e o convidei para a minha varanda - um dos benefícios de se viver em casa. Minhas primeiras memórias dessas saídas datam do final do inverno. Lembro do frio, sobretudo do frio. As pontas de meus dedos queimavam de frio e a garganta pela brasa. Era incômodo e até um pouco desesperado. Digo, sair ao frio só para fumar.

Vinha a clareza da nicotina novamente, os diálogos prosseguiram. O novo ambiente sanou nossa amizade. Voltei a discursar mentalmente sobre os mais variados temas que quase sempre converginham em mim, confesso, afinal, eram meus pensamentos. Forçando explicações eu criava verdades, pelo diálogo, eu me definia: eu existia!

Desfrutando do imenso silêncio e serenidade que a madrugada oferecia, interrompida por um carro ou outro que passava na rua, olhei para meu céu paulistano sem estrelas e pensei: "São nesses momentos em que as pessoas se sentem calmas, não são?"

Forcei o raciocínio até que se tornasse outra das minhas verdades. Podia abrir mão da rebeldia do estar fumando, mas não da qualidade meditativa do ritual: queria de volta o meu momento! E é desse impulso que me lembro toda madruga, desse desejo. De cigarro, para legitimar o ritual; e de que a calma é possível se a gente acreditar.

Mas toda ilusão cai e já era hora dessa sair de cena. Não é a brisa noturna ou mesmo o cooler do sistema de refriação do computador que vão me deixar em transe, não! Pois são esses os sons que imperam no silêncio, mesmo nele sou incapaz de ouvir as batidas do meu coração - e que calma ou meditação é possível sem esse entendimento?

Tenho apenas os ventos da madrugada me levando cada vez mais para fora do entedimento das coisas complexas da vida. E não é nenhum capricho do destino! A incapacidade de ser calmo onde todos os outros seriam, mais do que do desejo pungente que força a reflexão e o processamento de cada anomalia, é do desgosto.

Sofro como qualquer um, mas ao dar nome ao sofrimento tive de justificá-lo, e até criá-lo, pelo vazio. Repeti a mim mesmo várias vezes, como nos acalorados diálogos internos movidos a nicotina, que tudo se devia ao que me faltava. Aceitei essa verdade...

E tanto me falta que possuo um buraco no peito. Vem o silêncio, não ouço meu coração, somente esses ventos! São eles que me distraem? Não, estou ouvindo muito bem: é meu coração oco que reverbera o som da mesma forma que uma concha vazia imita o mar.

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