Meu grande companheiro já caiu há muito tempo, só faltava colocar em palavras: o tédio acabou. A nova vida não tem espaço para o vazio. Não se engane, ainda odeio pessoas ocupadas, daquelas que dizem que vinte e quatro horas não são o suficiente, estas são mais neuróticas do que eu. Então... o que mudou?
O ócio ganhou um novo sentido. Ainda me mantenho por horas horas sem realizar atividades de grande utilidade para mim e de menor uso ainda para teceiros. Mas é mais como prelúdio demorado dos feitos que virão à seguir do que um simples vazio. É enrolação. Tenho planos, os adio, mas eles estão lá. Não existe tédio se há o que se fazer.
É uma adaptação da malandragem culinária de se colocar mais água no feijão para servir a galera toda. Pego um evento de duração modesta e estico por todo o dia ou, até, pela semana (à depender da preguiça). Ficou muito mais fácil vencer os dias.
Dá para chamar de tédio sintético, pois não é tédio (dito que tenho o que fazer), mas desperta aquela familiariade com as horas à frente do computador. Continuo à escrever, e, talvez mais por isso ainda, seja tédio... e nada me inspira mais.
Portanto, o blog não precisa mudar de nome, não agora. O tédio, mesmo sintético, continua a ser constante na minha vida. As musas e os sonhos mudam, os fantasmas se transmutam em demônios e sou despertado por novas emoções à cada dia, mas o tédio é sempre tédio. Não seria o que sou, sem esse tempo à mais para pensar besteira.
E se não sei o que seria, sei muito bem o que sou, ainda que seja difícil colocar em palavras. Não que eu seja dotado de qualidades estupendas (modéstia à parte, sob alguns aspectos posso até ser), é que escrever, ainda mais tendo a própria essência como objeto, é trabalho para uma vida inteira... afinal, é preciso inventá-la.
Sou bom em preencher o vazio e justo por isso o tédio normal não tinha mais espaço. Faço-o com tanta habilidade que crio mais espaços para serem preenchidos. Do contrário, eu ficaria... entediado. Certo, admito que o pensamento ficou um tanto paradoxal.
[Pausa]
Parei a redação do texto em determinado ponto para ir ao cinema e assistir "Alice no País das Maravilhas". Escrevi mais dois parágrafos e tive de parar para tomar um fôlego e fazer uma revisão nas ideias. Sinceramente, a inspiração me fugiu completamente.
Em algum momento entre sexta à noite, quando me ocorreu a ideia de escrever sobre o fim do tédio, e o desenrolar do filme, eu me perdi totalmente do objeto da escrita. Parece estúpido escrever sobre isso, perdeu completamente o sentido.
Não é raro que a desilusão invada o momento da confecção do texto. Escrever não seria sincero (e não sei se essa é exatamente a palavra) se a gente desse um pause em todos nossos sentimentos para refletir sobre sensações passadas. Não interessam momentos que não aguentem sequer a passagem entre reflexão e escrita.
Mas aqui eu realmente fui pego de surpresa, estou perdido. Não consigo inventar uma conclusão fajuta e nem quero fazê-lo. Deletar tudo e começar de novo com outro tema em uma outra oportunidade parece preciosimo de mais.
O que fazer?
Preencher o vazio
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