Mais uma vez, me reporto à um interlocutor imaginário. Acho que não existe prova maior de carência do que querer conversar com alguém mesmo sem ter nada para dizer. Diálogos inúteis, pontes ociosas, por onde só passa o vazio.
Tem hora que o nada precisa ser compartilhado ou ele toma conta.
Precisa? Essa urgência toda é carência, já disse!
Você diz que de nada serve conversar com alguém senão para a comunicação, é isso?
Precisamente!
E o compartilhamento de sentimentos não conta? É possível sentir, em qualquer situação. O vazio por si só já é um sentimento.
Mas isso é diferente.
Diferente como?
Ora, é diferente e pronto! Talvez eu aceitasse a sua ideia se fosse possível compartilhar sentimentos, se eles tivessem peso, volume, se existissem de fato. É possível apenas uma vaga ideia deles, ideia esta que fica pobre e débil, quando não repetitiva, sob uma rotina pesada. Os sentimentos de uma pessoa ociosa são assuntos, mas assuntos chatos!
Sendo assim, ninguém diria que esta entediado, pois não teria o direito de se comunicar sem o risco de ser taxado de carente... aliás, é tão grave assim ser carente? Você trata a carência como se fosse um erro imperdoável.
Só digo que seria mais fácil a pessoa se ocupar de algo útil, produzir, enriquecer o mundo em algum aspecto. Depois, voltaria rica também, ao menos de uma história por ter se aventurado na busca. Não daria espaço para o tédio e, ao mesmo tempo, criaria assunto para que a conversa não seja em vão.
Aí caímos no debate do que seria útil. Às vezes, o que se pretende não é produzir nada, apenas estar com quem se gosta... e muitas vezes sem fazer absolutamente nada, exceto conversar. Difícil chamar esses momentos que, de tão ricos, criam mil memórias e sorrisos de situações comuns. Querer a felicidade é carência?
Sim.
Fala isso só para não dar o braço à torcer...
E a felicidade, por acaso, existe?
[Silêncio]
0 comentários:
Postar um comentário