Essa tristeza me entedia, não há dramas novos. O silêncio machuca, minha paixão pela música é um medo mascarado de sua ausência, não vivo sem meu barulho. Quanta estupidez! Sou escritor, parei de escrever e quero desesperadamente compartilhar isso com alguém... e só encontro meios para me fazer ouvido pela própria escrita!
Não existe uma realidade para ser saboreada em minhas palavras, se prova do vazio. Vivo uma vida pela metade, sempre pelos cautelosos "talvez", não arrisco afirmar, pois pouco sei de qualquer coisa. E se aprendi algo nessse exercício, e não com muita habilidade, foi onde colocar a vírgula. A única reflexão genuína do texto.
Gosto pensar que sou um habitante das madrugadas, romantizo saudosamente meus hábitos me inspirando na bohemia que preferia morrer jovem a ter de ver apodrecer o espírito. Mas, com eles, só compartilho o fuso-horário ao avesso, mero detalhe.
Com exceção de minhas aventuras dosadas com garrafas de vinho barato, dois dedinhos do uísque caro ou mesmo uma solitária caipirinha para lembrar da musa que, tão diferente das angelicais, puras e enfadonhas donzelas, trouxe cachaça no meu aniversário, faço muito pouco para fazer jus aos meus grandes ídolos.
E quais ídolos são esses?
Não tinha nenhum, até pouco tempo, não penso por exemplos, só por ideias soltas, loucuras que como quaisquer outras não precisam ser justificadas. Mas, novamente por contribuição da musa que me indicou um livro (O encontro marcado - Fernando Sabino), agora já me vem Eduardo puxando angustia com seus comparsas.
E não dou mais detalhes da obra para não atentar contra sua beleza.
Claro que tenho de reconhecer que por melhor que eu seja não dá para escrever em uma ausência total de assunto, existe algo comigo. Mas o que? Coisas tão pequenas! Sou escritor que se inspira vendo Telecurso 2000 no fim da madrugada; sou romântico que é tocado por sentimentos clichês da reprise da reprise de Friends...
Essas revelações duvidosas vem todas parar aqui neste blog. Escrevo como quem escreve um diário - a mais íntima das produções, mas que pode ser enquadrada e classificada no pensamento da maioria, reflete, ainda que em dramas individuais, o imaginário coletivo. Mesmo a exceção confirma a regra e nem isso eu sou.
Deve parecer bobagem esse suposto sofrimento que me faria rejeitar a escrita, única coisa que me restou de valor. Não, com certeza parece bobagem ao olhar do leitor. Isso para aqueles que não compreendem a dor que sinto ao ter de reconhecer que sou um qualquer naquilo que tento me sobressair... e, ao mesmo tempo, execepcional em meus fracassos.
Querido diário, hoje estou triste. Não fosse o ataque de sinusite e o jogo de abertura da Copa eu nem teria levantado da cama, não fossem as ideias que me coçam os dedos eu não teria lhe escrevido, não fosse a minha nova companheira de aventuras (vou para o Amazônia, sabiam?), de que valeria? De nada. Mas, pensando bem...
Talvez eu nem esteja tão triste.
1 comentários:
Escreva sobre o "vazio" e por pura vontade de escrever, mas escreva. Sempre.
Seus devaneios lembram os meus, mas você se expressa melhor, é mais perspicaz com as palavras sem dúvidas...
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