Existe uma diferença sutil entre o ser e o estar, não é a toa que a língua inglesa confunda os dois no bem conhecido verbo to be, presença obritatória na doutrinação do "idioma do mundo" em escolas e cursos apostilados que parecem brotar do chão.
Primeiramente, se diria que a diferença de ambos se encontra na duração. O que é permanece, e o que está transita, como se existisse um ser eterno... Mas, independente das brincadeiras e sofismas semânticos, existe, de fato, uma definição convencionada. À ponto de sobreviverem conceitos distintos sob a mesma palavra na língua inglesa.
O nosso ser comporta o que pode, ou melhor, o que se espera que possa, ser mudado; e o nosso estado o que é aceito mais facilmente como transitório. Nossas virtudes e vícios mostram aquilo que somos e nossas emoções e conhecimentos como estamos.
Ao menos, é o que vejo da percepção alheia...
Mesmo definindo, e, se não está perceptível, eu esclareço, é algo muito confuso para mim. Conforme você passa a desacreditar na essência, o ser fica mais inconcebível... perdi a fé. Sinto-me localizado em meio a uma série de acasos movidos por fatos transitórios: não sou nada e acredito que ninguém também seja alguma coisa.
A identidade é uma piada, seja no âmbito particular ou na história de um povo (meu desabafo é abritrário como todos os outros, mas essa associação eu faço em respeito a todos os paulistas facistas que tiraram o feriado para falar bobagem).
Minha confusão só aumenta quando penso que o que é considerado como estado pela convenção, em mim, traz mais seriedade do que aquilo que é associado ao ser. Parentes e amigos, ao me descreverem, tecem um relato das mais puras desverdades e só acertam sobre fatos que eu os alertei sobre... é, adoro falar sobre mim mesmo.
Também pudera, raramente sou fiel à uma ideia, nunca sou - o meu ser é composto por estados. E aí que vem a calhar a neurose, a rotina, os fantasmas... para ser alguém eu preciso estar preso. A constante necessidade de mudança me faz conceber a existência como uma prisão, não-natural, por isso me confundo... ou talvez eu seja um idiota.
Deve ser isso! Afinal, não hesitei, não disse "estou sendo um idiota" disse que era um e fim de história. As coisas só se complicam quando se decide que assim seja.
Mas, afinal, o que sou? Eu sou eu, quem mais? Um escritor bem humorado, apaixonado e triste, simples assim. Nego que os dois últimos sejam vistos como estados, ou mesmo que uma atividade, tal como escrever, possa ser vista como intangível à eternidade suposta no ser. Tentando descomplicar, já nego de pronto sem grandes justificativas.
Se eu deixar de escrever, se eu não me apaixonar na sequência de cada desilusão formando novas musas a cada passo, se eu for feliz, se eu deixar de me contentar com a alegria gótica na ironia do sofrimento, seria ainda eu?
Não.
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