O Que Eu Diria, Se Pudesse

Diga-me, madrugada, o que seria de mim se o que é não fosse? Se o que me impede me impelisse, o que seria do que não é? Seria diferente? Talvez não, mas é confortável pensar em alternativas para uma realidade que me desagrada. Escapismo? De fato.

Como quem acredita no poder das palavras, no pensamento que se contrói no discurso, na ideia que só existe comunicada, penso no que eu diria, se pudesse. Se o constrangimento não existisse, se o desconhecimento não fosse barreira, ou mesmo se a garganta seca não secasse também as palavras na angústia chorosa, o que eu diria?

                                               Talvez...

Errei

Não faria rodeios: feito o erro, assumiria. Partiria para a próxima...

Aprendi

Livrar-me da teimosia me permitiria aprender com meus erros, pois só os admitindo e os concebendo como tais é que os erros existem. De outra forma, seriam apenas neurose.

Obrigado

O que me falta está aqui para ser completado, de nada adiantariam os albuns de figurinhas vendidos completos. Se paro de encarar tudo como uma maldição ou como azar, poderia agradecer a todos que me estendem a mão e tentam fazer parte de mim.

Não Sei

E que surpresa a minha quando o vazio de que tanto reclamo é completo por um ego inxado. Respondo à qualquer pergunta (mesmo quando não sou requisitado). Busco a frustração pelo erro, devo ter viciado, pois inevitavelmente falharei... e tudo seria solucionado por um simples "não sei". Por que me privo do caminho fácil?

Desisti

Se a sinceridade fosse necessária, teria de iniciar cada dicurso e ideia nova com um "desisto". Isso porque desisti de tudo mesmo antes de começar. O que me deixa com toda essa energia de sobra para gastar em teimosia e narcisismo. Afinal, tenho de ser amado de alguma forma, certo? Até o amor próprio fica difícil quando tudo não sai do ridículo.

Falo Sério

Nunca falo, mas gostaria que me levassem a sério...

Eu Te Amo

Só assim para que eu tenha a força para pronunciar as três palavras. Tudo bem achar que tudo mais em mim é ridículo e enganoso, mas me mata o desprezo por meu amor. Ele é tudo o que se espera do maior sentimento possível, mesmo dentro de ínfimas almas; é adulto, não o tome como infantilidade; e certo, será eterno enquanto durar.

Sou Otimista

Ainda traço meus planos em cima de sonhos, ainda começo cada história minha com um "era uma vez..." e ainda acredito que tudo o que me falta é dizer a coisa certa. Apesar de tudo, otimista. Confessaria... não fosse o medo de soar incoerente por toda essa fé em um ateu ou mesmo por medo do azar - todo boleiro sabe que não se grita gol antes da hora.

Adeus

Detesto despedidas.